São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

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MATRÍCULA NA LAMA

SOB VIGILÂNCIA DE PAIS, ALUNOS E FACULDADES, TROTE BUSCA PRÁTICAS ALTERNATIVAS À VIOLÊNCIA

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Enquanto um grupo de alunos chafurda na lama, três calouros tímidos trocam olhares entre si. "Eaê, vamos?", buscam coragem, antes de aderir à comemoração.
Apesar de a violência ainda ser uma realidade nos trotes, o dia da matrícula pode ser também uma celebração da qual alunos participam por vontade própria.
"Estou superfeliz, me esforcei pra caramba, agora quero mais é levar trote. Desde que não machuque!", diz a estudante de arquitetura Luiza Amoroso, 20, suja de tinta e cheirando a ovo.
A preocupação de que a brincadeira não passe dos limites não é privilégio de alunos e pais. Universidades vêm buscando ter maior controle sobre a matrícula.
As medidas vão de proibir a prática a criar linhas telefônicas para denúncias, passando pelo "trote solidário".
Na Escola de Comunicações e Artes da USP, haverá arrecadação de alimentos. Os alunos da Metodista, por sua vez, doaram sangue.
Na Fundação Getúlio Vargas, deram "trote sustentável", varrendo ruas.
"Queremos criar alternativas à violência e à humilhação", diz Ademar Bueno, organizador da atividade.
Na Escola Politécnica da USP, o trote tradicional é cercado de proteções. Veteranos chegam a contratar seguranças, alugar banheiros químicos e montar chapelaria.
"Nossa intenção é ter controle sobre o que vai ser feito", diz Francine Arida, 20, uma das organizadoras.
"Os casos violentos têm diminuído", afirma Jefferson Aparecido Dias, procurador dos direitos dos cidadãos. "Mas é um processo lento."
Para a promotora criminal Eliana Passarelli, uma das razões para a diminuição é a divulgação dos excessos.
Por isso, é importante continuar a denunciar as práticas abusivas. "O aluno tem de garantir seus direitos. O bom profissional começa aí."
A aluna de design Erika Huang, 18, conta que tentou escapar das comemorações. "Foi meio assim: "Água não!" Chuá! "Farinha não!" Paf!", diz. "Mas tudo bem, o problema vai ser voltar para casa."
"Nem deu tempo de dizer não", conta Elizabeth Eguti, que também passou em design. "No ano que vem, nós é que vamos dar trote!", diz.


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