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Filosofia das ruas EM PLENO SABADÃO, JOVENS SE REÚNEM NA PRAÇA PARA DISCUTIR A LIBERDADE ANNA VIRGINIA BALLOUSSIERDE SÃO PAULO Sabadão de sol, folga da escola... E você aí, numa baita crise existencial. Afinal, é ou não é um dia perfeito para discutir noções de existencialismo segundo o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980)? Dezenas de jovens respondem que sim, claro. Por que não embarcar nas viagens do cara para quem "o inferno são os outros"? E apontam o "culpado" pelo hobby incomum: o professor de filosofia deles, Felipe Pinto, 34. É que Fepa, como todos o conhecem, anda com mil ideias na cabeça e um microfone na mão. Lançou neste mês seu primeiro álbum, "Pátio de Hospício" (Tratore, R$ 15), calcado no rock e no folk. Parte da inspiração nasceu nas rodas de filosofia que ele organiza para seus alunos. Os encontros rolam em espaços públicos, abertos a quem estiver passando por ali, "a fim de sair um pouquinho do senso comum". Do senso comum a família de Fepa escapou mais do que esse "pouquinho". Seu avô é poeta português fugido de uma ditadura no país. O pai, João Ricardo, vocalista do Secos & Molhados -banda com Ney Matogrosso que, já nos anos 70, se maquiava para fazer shows. LIVRAI-ME Aluno de Fepa numa escola de elite da zona sul, Vinícius Carbone, 18, acha que é "meio clichê" o que vai falar. "Mas a maioria dos jovens tem ideais muito massificados", emenda. Com o professor, que avisa pelo Twitter (@ofepa) quando os encontros vão rolar, a história é outra. Eles discutem, por exemplo, a liberdade a partir de Sartre: ser livre não é este oba-oba todo que as pessoas pensam. Você, afinal, torna-se responsável por suas escolhas. Quer matar aula? Vá em frente. Só não chie quando a nota vermelha aparecer... "Estou mais consciente de como trabalhar minha liberdade. Não é fazer o que quiser", diz Giulia Falcone, 17, dona de gostos "cult" no Facebook -do autor italiano Primo Levi à bonequinha de luxo Audrey Hepburn. Na roda da foto acima, que aconteceu a convite do Folhateen, tinha até gente comentando que "as coisas não são mais iguais, sabe?". Taí a "crise" de Julia Daudén, 16: matar os pais. "Mas simbolicamente, claro!" Ela diz que, após as aulas de filosofia, viu o "modelo ideal" que seus pais representavam estourar como bolha de sabão. "Daí, você começa a ter mais autonomia pra pensar, e vê cada vez mais que eles [os pais] falam bobagem, que pensam diferente." Para Fepa, o legal é levantar questões "que dão 'start' para a problematização". No caso dele próprio, uma ficha caiu quando, há alguns anos, ele abandonou um mestrado na USP para se dedicar, enfim, à carreira artística. Concluiu então: "Em vez de estudar arte, vou tentar fazer arte". E assim foi. Fez teatro, vídeo e, agora, seu disco de estreia. Fepa afirma que evita falar sobre sua música aos alunos. Mas inevitável que, cedo ou tarde, eles a descobrissem -no show de lançamento do álbum, vários estavam na plateia. Na parede de casa, Fepa tem um quadro do grafiteiro Jean-Michel Basquiat. Título: "O tempo é agora". "Hoje é meu tempo. Estar com esses caras [alunos] ajuda a me manter vivo." Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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