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À sombra do cinema, Hyldon está de volta
Autor de "Na Sombra de uma Árvore" lança hoje clipe filmado por Tata Amaral
Compositor da célebre "Na Rua, na Chuva, na Fazenda", cantor emergiu na trilha de "Cidade de Deus", depois de retiro voluntário de 10 anos
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Por pouco, o cantor e compositor Hyldon não realiza seu sonho: "Queria que todo mundo
conhecesse minha música e
que ninguém me conhecesse".
Autor de "Na Rua, na Chuva,
na Fazenda" e "As Dores do
Mundo", entre outros hits do
repertório romântico brasileiro, Hyldon viu suas músicas
continuarem sendo sucesso,
enquanto ele submergia em Teresópolis, na serra fluminense
e bem longe dos palcos.
Era o início da década de 90.
"O mercado estava muito ruim,
e eu queria me isolar, me repensar", diz. O retiro durou
quase dez anos, nos quais ele
apoiou o coral da igreja local e
gravou um disco para bebês.
"Para dar jeito na música, tem
que começar do berço", afirma.
Hyldon foi "redescoberto"
pelo cinema, quando sua canção mais popular, a que celebra
a hipótese de um amor numa
casinha de sapê, foi moldura
para uma cena de "Cidade de
Deus" (Fernando Meirelles).
Reconciliado com o Rio de
Janeiro e com os palcos,
Hyldon prossegue o casamento
com o cinema. Hoje, ele faz
show no Na Mata Café, em São
Paulo, para lançar o clipe de
"Na Sombra de uma Árvore".
Dirigido pela cineasta Tata
Amaral, o clipe é aperitivo do
longa inédito "Antonia", que
tem a música de Hyldon na trilha sonora.
Pocket show
Nesta noite, Hyldon é convidado da banda Grooveria. "Farei um pocket show." O repertório não terá inéditas, embora
ele siga "compondo sempre".
Com o paulista Renato Dias,
por exemplo, o músico acaba de
fazer "Tobayara Pysycaba", que
em tupi quer dizer "a captura
do inimigo", conta.
O enfoque do show em velhos sucessos é uma rendição
de Hyldon a uma evidência que
ele nem sempre quis admitir:
"É muito chato ir a um show e
ficar ouvindo música inédita".
Ele, porém, acha muito chato
tocar sempre as mesmas músicas. A solução foi montar uma
banda de 12 integrantes (teclados, guitarras, bateria, baixo,
sax, trompete, trombone, percussão e vocais) e abrir espaço
para a improvisação. Mas sem
exageros, dado seu histórico de
crítico do improviso.
Quando preparava o LP (nos
anos 70, antes da era do CD)
"Na Rua, na Chuva, na Fazenda", Hyldon, 55, quis mandar
um recado "para os caras que só
queriam entortar [os sons]".
Jazz
Compôs então "Cuidado para Não Virar Jazz", música sem
letra, mas cujo título esbarrou
no crivo da censura.
Encrencas com a censura
eram uma nota muito fora do
lugar na carreira de Hyldon.
Assumidamente romântico
-"meu engajamento é com o
ser humano"-, ele estava habituado a "pagar o preço de ser
chamado de alienado, enquanto o Geraldo Vandré e o Chico
[Buarque] faziam as músicas
engajadas".
Resultado: não quis nem saber de ir a Brasília se explicar e
abriu mão de ter no disco a faixa "Cuidado para Não Virar
Jazz". Hyldon diz que, "por ignorância da polícia", havia sido
"detido para averiguações duas
vezes" e não tinha a menor intenção de engordar a lista.
A primeira detenção, aos 14
anos, ocorreu na Bahia, onde
nasceu e foi batizado Hyldon
"graças à criatividade baiana"
de sua mãe, dona Ildonete.
"Outro dia olhei na internet e
descobri que existe um hotel
em Belfast e um dog alemão
com o meu nome", conta.
A segunda dura da polícia alcançou Hyldon muitos anos
mais tarde, em Teófilo Otoni
(MG), onde ele e o compositor
Cassiano faziam show e terminaram sendo considerados
"suspeitos".
Passado o tempo da tríade
notável da black music brasileira -que ele formava com Cassiano e Tim Maia-, Hyldon hoje cultiva amigos em diversas
vertentes sonoras e se diverte
com o status de ídolo de rappers e adjacências. "Os brutos
também amam", afirma.
Passado também o tempo da
pujança das gravadoras -"Até
o meu porteiro já gravou um
CD de forró", diz-, Hyldon sugere uma fórmula para revigorar o mercado musical: "É preciso acabar com o jabá [pagamento para execução em rádio]. Deviam começar fazendo
uma CPI das gravadoras, já que,
antes de investigar o aliciado, é
preciso investigar o aliciador".
Show com Hyldon e Grooveria
Quando: hoje, às 23h
Onde: Na Mata Café (r. da Mata, 70,
SP, tel. 0/xx/11/3060-9010)
Quanto: R$ 20 (para homens) e R$
10 (para mulheres)
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