São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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À sombra do cinema, Hyldon está de volta

Autor de "Na Sombra de uma Árvore" lança hoje clipe filmado por Tata Amaral

Compositor da célebre "Na Rua, na Chuva, na Fazenda", cantor emergiu na trilha de "Cidade de Deus", depois de retiro voluntário de 10 anos

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Por pouco, o cantor e compositor Hyldon não realiza seu sonho: "Queria que todo mundo conhecesse minha música e que ninguém me conhecesse". Autor de "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" e "As Dores do Mundo", entre outros hits do repertório romântico brasileiro, Hyldon viu suas músicas continuarem sendo sucesso, enquanto ele submergia em Teresópolis, na serra fluminense e bem longe dos palcos. Era o início da década de 90. "O mercado estava muito ruim, e eu queria me isolar, me repensar", diz. O retiro durou quase dez anos, nos quais ele apoiou o coral da igreja local e gravou um disco para bebês. "Para dar jeito na música, tem que começar do berço", afirma. Hyldon foi "redescoberto" pelo cinema, quando sua canção mais popular, a que celebra a hipótese de um amor numa casinha de sapê, foi moldura para uma cena de "Cidade de Deus" (Fernando Meirelles). Reconciliado com o Rio de Janeiro e com os palcos, Hyldon prossegue o casamento com o cinema. Hoje, ele faz show no Na Mata Café, em São Paulo, para lançar o clipe de "Na Sombra de uma Árvore". Dirigido pela cineasta Tata Amaral, o clipe é aperitivo do longa inédito "Antonia", que tem a música de Hyldon na trilha sonora.

Pocket show
Nesta noite, Hyldon é convidado da banda Grooveria. "Farei um pocket show." O repertório não terá inéditas, embora ele siga "compondo sempre". Com o paulista Renato Dias, por exemplo, o músico acaba de fazer "Tobayara Pysycaba", que em tupi quer dizer "a captura do inimigo", conta. O enfoque do show em velhos sucessos é uma rendição de Hyldon a uma evidência que ele nem sempre quis admitir: "É muito chato ir a um show e ficar ouvindo música inédita". Ele, porém, acha muito chato tocar sempre as mesmas músicas. A solução foi montar uma banda de 12 integrantes (teclados, guitarras, bateria, baixo, sax, trompete, trombone, percussão e vocais) e abrir espaço para a improvisação. Mas sem exageros, dado seu histórico de crítico do improviso. Quando preparava o LP (nos anos 70, antes da era do CD) "Na Rua, na Chuva, na Fazenda", Hyldon, 55, quis mandar um recado "para os caras que só queriam entortar [os sons]".

Jazz
Compôs então "Cuidado para Não Virar Jazz", música sem letra, mas cujo título esbarrou no crivo da censura. Encrencas com a censura eram uma nota muito fora do lugar na carreira de Hyldon. Assumidamente romântico -"meu engajamento é com o ser humano"-, ele estava habituado a "pagar o preço de ser chamado de alienado, enquanto o Geraldo Vandré e o Chico [Buarque] faziam as músicas engajadas". Resultado: não quis nem saber de ir a Brasília se explicar e abriu mão de ter no disco a faixa "Cuidado para Não Virar Jazz". Hyldon diz que, "por ignorância da polícia", havia sido "detido para averiguações duas vezes" e não tinha a menor intenção de engordar a lista. A primeira detenção, aos 14 anos, ocorreu na Bahia, onde nasceu e foi batizado Hyldon "graças à criatividade baiana" de sua mãe, dona Ildonete. "Outro dia olhei na internet e descobri que existe um hotel em Belfast e um dog alemão com o meu nome", conta. A segunda dura da polícia alcançou Hyldon muitos anos mais tarde, em Teófilo Otoni (MG), onde ele e o compositor Cassiano faziam show e terminaram sendo considerados "suspeitos". Passado o tempo da tríade notável da black music brasileira -que ele formava com Cassiano e Tim Maia-, Hyldon hoje cultiva amigos em diversas vertentes sonoras e se diverte com o status de ídolo de rappers e adjacências. "Os brutos também amam", afirma. Passado também o tempo da pujança das gravadoras -"Até o meu porteiro já gravou um CD de forró", diz-, Hyldon sugere uma fórmula para revigorar o mercado musical: "É preciso acabar com o jabá [pagamento para execução em rádio]. Deviam começar fazendo uma CPI das gravadoras, já que, antes de investigar o aliciado, é preciso investigar o aliciador".


Show com Hyldon e Grooveria
Quando:
hoje, às 23h
Onde: Na Mata Café (r. da Mata, 70, SP, tel. 0/xx/11/3060-9010)
Quanto: R$ 20 (para homens) e R$ 10 (para mulheres)


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