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CINEMA DIGITAL
Tecnologia de "Matrix" toma filmes nacionais; produtoras começam a ser requisitadas por estrangeiros
Brasil tenta vôo ousado com efeitos especiais
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Você está pronto para conhecer
o futuro? Mais ou menos como
quem oferece a pílula de Matrix, o
supervisor de efeitos especiais
Marcelo Siqueira tem percorrido
o escritório de produtores e diretores do cinema brasileiro com
uma tentadora proposta: que tal
filmar usando o processo digital?
Cacá Diegues, de "Deus É Brasileiro", topou. Jorge Furtado, de
"O Homem que Copiava", também. Roberto d'Ávila e Patrick
Siaretta, de "O Martelo de Vulcano", novo longa baseado na série
"Ilha Rá-Tim-Bum", entraram de
cabeça: com um orçamento relativamente baixo e um prazo de
produção de quatro meses, fizeram aquele que, defendem, é "a
obra cinematográfica brasileira
com a maior quantidade de efeitos especiais já feita".
"O cinema digital é uma tendência mundial, muito mais fácil,
rápido e controlado", defende Siqueira, do grupo TeleImage, que
realiza desde as etapas mais simples do processo digital, como a
transferência de vídeo para película, em alta definição, até a criação de cenários e personagens virtuais, como em "O Martelo de
Vulcano", parceria entre a empresa, a TV Cultura e a Warner Bros.
Roteiros e investimentos à parte, a verdade é que já é possível, no
país, trabalhar com os mesmíssimos equipamentos e softwares
que deram origem a produções de
padrão hollywoodiano como
"Matrix" e "O Senhor dos Anéis".
"Deus É Brasileiro" e "O Martelo de Vulcano" -que estréia no
dia 10 de outubro-, utilizaram os
mesmos supercomputadores Maya, Cyborg e Inferno que os blockbusters americanos usaram para
compor e editar suas imagens.
E dá para fazer um "Senhor dos
Anéis" aqui? "Se aparecer alguém
com dinheiro e prazo para isso,
dá. A mão-de-obra é excelente, as
técnicas e equipamentos são
iguais e a gente tem um método
de trabalho flexível. Além disso, o
custo, por causa do dólar, é menor", diz o supervisor de efeitos,
que já empregou as mesmas técnicas de "Matrix Reloaded" para
realizar vôos em "O Martelo...".
Prática cada vez mais comum
na indústria de animação americana, o mercado internacional de
pós-produção já começa a buscar
bons negócios no Brasil. A TeleImage fechou parcerias com a produção franco-chinesa "All Tomorrow's Parties" e com a Miramax, para trabalhar em "Voando
Alto", de Bruno Barreto.
Mas, mesmo aqui, o trabalho de
convencimento está apenas começando. "O Cacá [Diegues] queria fazer ["Deus É Brasileiro'] em
processo óptico. No início, foi
muito papo para convencê-lo a
fazer um teste. Depois de 270 horas dentro de uma sala, literalmente brincando com as imagens
dele, já estava querendo que a mata não fosse verde, mas amarela,
mostarda", lembra Siqueira.
Outra passagem curiosa se deu
com o fotógrafo Lauro Escorel,
que trabalhou em "Uma Vida em
Segredo", de Suzana Amaral: "O
filme não tinha nada em digital e
teve um plano superdifícil dramaticamente que acabou ficando
com um pêlo na tela. E era só
aquele plano. Eles rodaram outros dois e disseram "não, tem que
ser esse". Tive de fazer oito testes
diferentes até chegar à textura
exata que agradasse ao Escorel.
Um tempo depois, quando estávamos vendo o filme, ele falou:
"Pô, sabe que eu nem lembro mais
qual era a cena agora?". Isso para
mim é a glória!".
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