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LIVRO/LANÇAMENTO
Os repórteres Sérgio Dávila e Juca Varella, enviados pela Folha a Bagdá, relatam a Guerra do Iraque pela perspectiva dos bombardeados
Em "Diário", jornalismo sério também é bonito
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O que primeiro chama a atenção no livro "Diário de Bagdá" é que se trata de um livro de
rara beleza.
O leitor convencional tem todo
o direito de achar politicamente
incorreto falar de beleza a respeito
de uma obra que trata da guerra.
Guerra nunca é uma coisa bonita.
Tem também o direito de achar
que é fútil pensar em beleza quando se fala de jornalismo sério.
Mas "Diário de Bagdá" prova
que:
1-) Imagens bonitas podem, às
vezes, falar mais sobre a crueldade
do que pilhas de sangue.
2-) Jornalismo sério pode ser
bonito, não apenas no texto, mas
no seu aspecto gráfico.
A beleza das imagens se deve,
como é óbvio, ao notável Juca Varella, um dos fotógrafos mais brilhantes de um país que é pródigo
em grandes profissionais da área.
Mas se deve também (ou principalmente?) ao casamento de imagem e texto.
Pena que, nos últimos muitos
anos, vicissitudes econômicas tenham limitado profundamente o
uso, pelos jornais brasileiros, de
duplas repórter/fotógrafo na cobertura de eventos internacionais.
A Folha, Sérgio Dávila e Juca
Varella romperam a regra. O leitor do jornal ganhou, como ganhará agora o leitor do livro, uma
espécie de edição ampliada, corrigida e melhorada dos textos a
quente enviados de Bagdá e das
fotos idem.
Não é um casamento fácil. Reportagem tem um forte componente subjetivo, até arbitrário.
Um relato pode nascer do impacto causado nos sentidos de um repórter por sons, cores, caras, gentes, cheiros. O impacto será diferente em cada repórter.
Quando dois deles se juntam
para o mesmo relato (em texto e
foto), conseguir sintonizar cada
impacto não é trivial.
A beleza do livro está dada também pelo resgate de uma verdade
simples, mas que corre o permanente risco de ser sepultada por
toneladas de teorias sobre a comunicação: jornalismo é, antes e
acima de tudo, o ofício de contar
bem boas histórias.
Boas histórias estavam disponíveis em cachos na Bagdá em guerra. Contá-las bem é que são elas.
Dávila e Varella o fizeram. Primeiro, porque são profissionais
de talento, o que já haviam comprovado em trabalhos anteriores.
Segundo, porque escolheram a
beleza do básico, do simples.
Para Dávila, tratou-se de contar
a história pelo ângulo dos bombardeados (o que, de resto, fornece o subtítulo do "Diário"). Já seria uma escolha importante e correta. Mas acho que os dois fizeram
mais que isso.
Explico: é lícito supor que 99%
ou mais dos brasileiros não têm a
mais remota idéia do que seja
Bagdá. Nem mesmo guias turísticos básicos estão disponíveis em
português, a julgar pela bibliografia nessa matéria (em inglês) a que
os dois tiveram que recorrer.
É igualmente lícito supor que
porcentagem idêntica de brasileiros não tenha a mais tênue vivência de uma guerra. Pois bem: a TV
transformou Bagdá e a guerra em
assunto virtualmente hegemônico à época. Mas puxando, quase
sempre e quase todos, por outros
ângulos: político, geopolítico, armas de destruição em massa, terrorismo e Saddam Hussein, até
"choque de civilizações".
O trabalho básico de contar como é Bagdá, como é Bagdá em
guerra e como vivem os bagdalis,
esse foi o foco de Dávila/Varella,
com o que conseguiram a proeza
(jornalística e também mercadológica) de juntar a fome (por informações) com a vontade de oferecê-las ao público brasileiro.
O resultado esteve nas páginas
desta Folha e está agora no livro.
Só tem um defeito: me mata de inveja, porque, em vez de escrever a
resenha, queria mesmo é ter escrito o livro.
Diário de Bagdá - A Guerra Segundo os Bombardeados
Autores: Sérgio Dávila (texto) e Juca
Varella (fotos)
Editora: DBA
Quanto: R$ 59 (144 págs.)
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