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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Rapel, lutas marciais, música e dança animam espetáculos dos grupos Circo Mínimo e Linhas Aéreas

Circo nas alturas

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Irmãos nas artes cênicas, o circo e o teatro dão as mãos neste domingo em projetos especiais para as crianças e seus respectivos acompanhantes.
O grupo Circo Mínimo estréia sua versão para um clássico do conto infantil, "João e o Pé de Feijão", em temporada no teatro Cultura Inglesa, em Pinheiros.
No Sesc Vila Mariana, a Companhia Linhas Aéreas reapresenta "As Linhas de Lina", um dos destaques do seu repertório, viagem por ritmos musicais e dançantes do Nordeste ao Sudeste do país, segundo o ponto de vista da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-92).
Primeira incursão do Circo Mínimo pelo teatro infantil, o conto original do folclore inglês "João e o Pé de Feijão" ganha tratamento à altura das peças que o grupo, encabeçado pelo ator Rodrigo Matheus, montou em 15 anos, completados no mês passado.
A saga do menino João, interpretado por Ricardo Rodrigues, vem a calhar com uma linguagem cênica que explora o espaço aéreo recorrendo a práticas circenses como trapézio e rapel (escalar paredes). Na história, o menino pobre troca a vaca da família, a Mimosa, que já não dá leite, por feijões mágicos. Reprimido pela mãe, ele fica de castigo, adormece e desperta surpreso com o pé de feijão que cresceu até a copa do céu. Ao escalá-lo, João vai se deparar com um reino dominado por um Gigante (Matheus).
Na versão circense, João também é um moleque que adora empinar pipa, mas, às vezes, é ele quem é empinado pela pipa e experimenta a sensação de passear sem pôr os pés no chão.
Segundo Matheus, 41, uma das leituras possíveis para a aventura de João é a metáfora do amadurecimento, o rito de passagem. "Ele se depara com o ouro, que representa a riqueza para obter a comida; com a galinha que bota ovos, ou seja, fonte do trabalho; e com a harpa, o instrumento musical que evoca a inspiração, a criatividade, a expressão artística", afirma.
Segundo Matheus, os recursos do circo estão completamente inseridos na história. A referência à série "Matrix" aparece como brincadeira em números de lutas marciais, sempre como tentativa de ilustrar magia na ação, no movimento dos intérpretes.
Ter crianças na platéia, após anos lidando com o público adulto, diz o ator, equivale a encontrar um novo interlocutor, desvendar outro universo, talvez mais complexo do que se supunha.

Diálogo com Lina
Criado em 1989, inicialmente como um espetáculo em procissão, que percorria a área do Sesc Pompéia, uma antiga fábrica, para dialogar com sua arquitetura, "As Linhas de Lina" ganhou novos contornos ao longo dos anos.
A arquiteta Lina Bo Bardi permanece como norte, mas o espetáculo sofreu adaptações para ocupar espaços fixos, como praças ou palcos convencionais, mas sem descuidar do apuro na linguagem visual. Agora, a filosofia do trabalho de Lina é abordada sob a perspectiva da música, um painel sonoro do Brasil por meio do forró, do chorinho, do batuque e até da batida eletrônica, contrastando cultura rural e urbana.
"É um espetáculo que conjuga dança e circo, muito colorido e alegre. E funciona para todas as idades", afirma a atriz Ziza Brisola, 29, que forma o núcleo da Linhas Aéreas com Erica Stoppel, companhia surgida em 1998.
Tanto o Circo Mínimo quanto a Linhas Aéreas são vinculados à Central do Circo, associação de grupos de circo-teatro criada em 1999. Com sede atual num galpão de 600 m2, na Vila Leopoldina (zona oeste), envolve também artistas da Companhia La Mínima e o grupo Circodélico, entre outros.



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