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Rapel, lutas marciais, música e dança animam espetáculos dos grupos Circo Mínimo e Linhas Aéreas
Circo nas alturas
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Irmãos nas artes cênicas, o circo
e o teatro dão as mãos neste domingo em projetos especiais para
as crianças e seus respectivos
acompanhantes.
O grupo Circo Mínimo estréia
sua versão para um clássico do
conto infantil, "João e o Pé de Feijão", em temporada no teatro
Cultura Inglesa, em Pinheiros.
No Sesc Vila Mariana, a Companhia Linhas Aéreas reapresenta
"As Linhas de Lina", um dos destaques do seu repertório, viagem
por ritmos musicais e dançantes
do Nordeste ao Sudeste do país,
segundo o ponto de vista da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-92).
Primeira incursão do Circo Mínimo pelo teatro infantil, o conto
original do folclore inglês "João e
o Pé de Feijão" ganha tratamento
à altura das peças que o grupo, encabeçado pelo ator Rodrigo Matheus, montou em 15 anos, completados no mês passado.
A saga do menino João, interpretado por Ricardo Rodrigues,
vem a calhar com uma linguagem
cênica que explora o espaço aéreo
recorrendo a práticas circenses
como trapézio e rapel (escalar paredes). Na história, o menino pobre troca a vaca da família, a Mimosa, que já não dá leite, por feijões mágicos. Reprimido pela
mãe, ele fica de castigo, adormece
e desperta surpreso com o pé de
feijão que cresceu até a copa do
céu. Ao escalá-lo, João vai se deparar com um reino dominado
por um Gigante (Matheus).
Na versão circense, João também é um moleque que adora
empinar pipa, mas, às vezes, é ele
quem é empinado pela pipa e experimenta a sensação de passear
sem pôr os pés no chão.
Segundo Matheus, 41, uma das
leituras possíveis para a aventura
de João é a metáfora do amadurecimento, o rito de passagem. "Ele
se depara com o ouro, que representa a riqueza para obter a comida; com a galinha que bota ovos,
ou seja, fonte do trabalho; e com a
harpa, o instrumento musical que
evoca a inspiração, a criatividade,
a expressão artística", afirma.
Segundo Matheus, os recursos
do circo estão completamente inseridos na história. A referência à
série "Matrix" aparece como
brincadeira em números de lutas
marciais, sempre como tentativa
de ilustrar magia na ação, no movimento dos intérpretes.
Ter crianças na platéia, após
anos lidando com o público adulto, diz o ator, equivale a encontrar
um novo interlocutor, desvendar
outro universo, talvez mais complexo do que se supunha.
Diálogo com Lina
Criado em 1989, inicialmente
como um espetáculo em procissão, que percorria a área do Sesc
Pompéia, uma antiga fábrica, para dialogar com sua arquitetura,
"As Linhas de Lina" ganhou novos contornos ao longo dos anos.
A arquiteta Lina Bo Bardi permanece como norte, mas o espetáculo sofreu adaptações para
ocupar espaços fixos, como praças ou palcos convencionais, mas
sem descuidar do apuro na linguagem visual. Agora, a filosofia
do trabalho de Lina é abordada
sob a perspectiva da música, um
painel sonoro do Brasil por meio
do forró, do chorinho, do batuque
e até da batida eletrônica, contrastando cultura rural e urbana.
"É um espetáculo que conjuga
dança e circo, muito colorido e
alegre. E funciona para todas as
idades", afirma a atriz Ziza Brisola, 29, que forma o núcleo da Linhas Aéreas com Erica Stoppel,
companhia surgida em 1998.
Tanto o Circo Mínimo quanto a
Linhas Aéreas são vinculados à
Central do Circo, associação de
grupos de circo-teatro criada em
1999. Com sede atual num galpão
de 600 m2, na Vila Leopoldina (zona oeste), envolve também artistas da Companhia La Mínima e o
grupo Circodélico, entre outros.
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