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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Pesquisadora e palhaço lembram Nerino em livro

DA REPORTAGEM LOCAL

Não é mais possível contar nos dedos das mãos os circos de lona montados na cidade. A situação é ainda mais dramática quando se sabe que são raros os remanescentes que não se deixam seduzir por apelos fáceis.
Para rememorar com quantas almas e mastros se ergue um circo, o palhaço Roger Avanzi, o Picolino 2, 80, e a pesquisadora Verônica Tamaoki, 44, tentam trazer à luz, em livro, a história do circo Nerino, emblema do espírito mambembe que ocupava o Brasil não faz muitos anos.
O circo Nerino começou sua carreira em 1913, em Curitiba, e desarmou a lona pela última vez em 64, no município de Cruzeiro (SP). A itinerância durou 52 anos.
Roger Avanzi é filho de seu Nerino, palhaço italiano, e dona Armandine, trapezista francesa, os fundadores do circo. Ele conta que era hábito da família, desde solo europeu, colecionar álbuns de fotografias. A partir dos anos 30, o circo atravessou anos de glória e, na mesma medida, Avanzi foi cada vez mais cuidadoso com o registro documental. O palhaço sempre carregou o acervo consigo. Em 95, ele encontrou Tamaoki, aficionada pela arte, dando início à reconstituição da trajetória do Nerino.
O livro é estimado em mais de 300 páginas e soma textos de outros colaboradores. Tamaoki gosta de dizer que a obra resulta do esforço de quatro gerações de artistas circenses, uma rede formada por poetas, jornalistas, fotógrafos, gráficos, pintores e desenhistas, espalhados pelo território brasileiro.
O fotógrafo francês Pierre Verger, o ator carioca Grande Otelo e o pintor pernambucano Bajado são alguns dos que, de alguma forma, testemunharam os tempos do Nerino. Em cada cidade, o circo armava, também, sessões de cinema, operava rádio própria e apresentava shows musicais.
A pesquisadora viajou pelo país e colheu 47 depoimentos, entre artistas que trabalharam ou se envolveram com o Nerino, historiadores e espectadores que o frequentaram. Gente como a acrobata Alice Silva Medeiros, a rumbeira Linda Paes e o músico Sivuca.
No ano passado, o artista gráfico Antônio Kehl criou um projeto para o livro. Recentemente, a Imprensa Oficial do Estado deu sinal verde para uma co-edição. No momento, Tamaoki busca uma editora.
Paralelamente, ela toca o site Pindorama Circus (www.pindorama circus.arq.br), que colocou no ar em agosto de 2002, ainda em caráter experimental, com a colaboração da também pesquisadora Ermínia Silva. A meta é torná-lo referência em estudos sobre o circo. (VS)


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