|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pesquisadora e palhaço lembram Nerino em livro
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é mais possível contar
nos dedos das mãos os circos de lona montados na cidade. A situação é ainda
mais dramática quando se
sabe que são raros os remanescentes que não se deixam
seduzir por apelos fáceis.
Para rememorar com
quantas almas e mastros se
ergue um circo, o palhaço
Roger Avanzi, o Picolino 2,
80, e a pesquisadora Verônica Tamaoki, 44, tentam trazer à luz, em livro, a história
do circo Nerino, emblema
do espírito mambembe que
ocupava o Brasil não faz
muitos anos.
O circo Nerino começou
sua carreira em 1913, em Curitiba, e desarmou a lona pela última vez em 64, no município de Cruzeiro (SP). A
itinerância durou 52 anos.
Roger Avanzi é filho de seu
Nerino, palhaço italiano, e
dona Armandine, trapezista
francesa, os fundadores do
circo. Ele conta que era hábito da família, desde solo europeu, colecionar álbuns de
fotografias. A partir dos anos
30, o circo atravessou anos
de glória e, na mesma medida, Avanzi foi cada vez mais
cuidadoso com o registro
documental. O palhaço sempre carregou o acervo consigo. Em 95, ele encontrou Tamaoki, aficionada pela arte,
dando início à reconstituição da trajetória do Nerino.
O livro é estimado em mais
de 300 páginas e soma textos
de outros colaboradores. Tamaoki gosta de dizer que a
obra resulta do esforço de
quatro gerações de artistas
circenses, uma rede formada
por poetas, jornalistas, fotógrafos, gráficos, pintores e
desenhistas, espalhados pelo
território brasileiro.
O fotógrafo francês Pierre
Verger, o ator carioca Grande Otelo e o pintor pernambucano Bajado são alguns
dos que, de alguma forma,
testemunharam os tempos
do Nerino. Em cada cidade,
o circo armava, também,
sessões de cinema, operava
rádio própria e apresentava
shows musicais.
A pesquisadora viajou pelo país e colheu 47 depoimentos, entre artistas que
trabalharam ou se envolveram com o Nerino, historiadores e espectadores que o
frequentaram. Gente como a
acrobata Alice Silva Medeiros, a rumbeira Linda Paes e
o músico Sivuca.
No ano passado, o artista
gráfico Antônio Kehl criou
um projeto para o livro. Recentemente, a Imprensa Oficial do Estado deu sinal verde para uma co-edição. No
momento, Tamaoki busca
uma editora.
Paralelamente, ela toca o
site Pindorama Circus
(www.pindorama
circus.arq.br), que colocou
no ar em agosto de 2002, ainda em caráter experimental,
com a colaboração da também pesquisadora Ermínia
Silva. A meta é torná-lo referência em estudos sobre o
circo.
(VS)
Texto Anterior: Circo nas alturas Próximo Texto: Crítica: Séries cômicas ironizam costumes Índice
|