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CRÍTICA
Séries cômicas ironizam costumes
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Se há alguma coisa em que a
TV norte-americana está
anos-luz à frente da brasileira, é
na produção de comédias.
Enquanto nos EUA a televisão
produz e exibe séries cômicas aos
montes com diferentes motes e
para públicos diversos, aqui as
experiências são esparsas e não
muito duradouras -vide as séries da Globo "Os Normais", como regra, e "A Grande Família",
como a exceção que confirma a
regra.
No amplo universo das sitcoms
há lugar para tudo. Figuram desde comédias cândidas (e bobocas) até comédias que lidam com
recursos sofisticados de auto-ironia e paródia.
Até o final deste mês, o canal
Sony oferece uma oportunidade
de rever dois bons exemplos de
sitcoms do último tipo, reexibindo episódios da última temporada de "That 70's Show" (20h) e
"Will & Grace" (20h30) todos os
dias. Ao lado de "Friends" e
"Becker", "That 70's Show" e
"Will & Grace" estão entre as
melhores séries cômicas exibidas
pelos canais de TV paga.
"Will & Grace", uma comédia
sobre dois amigos inseparáveis
-o advogado gay Will e a decoradora Grace-, se tornou cult
para o público GLS, pois tem um
personagem homossexual como
protagonista, trata com naturalidade aquilo que os norte-americanos chamam de "alternative lifestyles" (estilos de vida alternativos) e dá visibilidade à cultura
gay. Soa politicamente correto ao
extremo, mas a série desvia-se da
chatice com uma saudável capacidade de fazer piada com tudo
isso.
O pulo do gato em "Will &
Grace" é a combinação dos personagens prototípicos do homem jovem gay bem-sucedido
(Will) e da mulher solteira e independente (Grace) a personagens caricatos tratado sem grosseria, como Jack -o homossexual fútil, vaidoso e destrambelhado- e Karen -a mulher que
casa por dinheiro, trata mal os
empregados etc.
O contraste entre as duas duplas faz boa parte da graça do seriado. Além disso, "Will & Grace" tem um time de atores bastante talentosos, detentores de
vários Emmys, e diálogos de uma
agilidade impressionante.
Na mesma linha do humor sarcástico, "That 70's Show" é a reposta inteligente (e engraçada)
para as séries adolescentes. Nesse
caso, o truque foi situar a sitcom
no passado e atribuir toda a ironia aos excessos da chamada década do "eu".
Assim, a turma de adolescentes
experimenta sexo sem culpa, bebe, se droga, desobedece aos pais,
se revolta contra o sistema - tudo aquilo que os adolescentes
neuróticos e culpados das séries
que se levam a sério gostariam de
fazer, mas os roteiristas não deixam. Claro, é mais fácil fazer graça em retrospectiva -ainda por
cima de uma década tão esteticamente extravagante e tão moralmente irresponsável como os
anos 70.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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