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ARTES PLÁSTICAS
"A Bigger Splash" apresenta obras da produção britânica das últimas quatro décadas pertencentes ao acervo da galeria londrina
Tate se mostra conservadora e elegante
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"A Bigger Splash" é mostra
conservadora. Reúne centena de peças de artistas britânicos dos últimos 40 anos, numa seleção que privilegia gêneros tradicionais dentre a pluralidade.
O acervo provém da Tate Gallery. A instituição museológica
representa uma força tradicionalista. Em 1938, seu diretor recusou-se a liberar a entrada alfandegária de uma exposição de escultura moderna curada por Marcel
Duchamp para Peggy Guggenheim, que pretendia montar a
coletiva em Londres. Se as peças
de Brancusi, Pevsner, Arp, Henri
Laurens e Calder fossem tocar o
solo inglês, que ingressassem como mercadorias de bronze ou
mármore. Mr. Manson não as
avalizava como arte, pois ao dirigente da Tate cabia a autoridade
legal sobre o assunto.
Longe vão os anos de resistência
à vanguarda, sobretudo após a recente inauguração da Tate Modern. Contudo a curadoria trazida ao parque Ibirapuera evita o
experimentalismo da arte jovem
em favor da maturidade de quadros e esculturas.
O conjunto é equilibrado e claramente distribuído. A chegada é
ascencional, pois o visitante deve
subir ao topo da calota arquitetônica da Oca por rampas amarelas
em espiral, ladeadas de corrimãos
tubulares brancos. A cenografia
provisória dialoga com o espaço
expositivo para criar um percurso
de visita de cima até o subsolo.
O primeiro bloco agrupa os
grandes da pintura figurativa. O
Reino Unido manteve a tradição
da figura após a Segunda Guerra,
apesar do apelo internacional do
abstrato. Somos recebidos por
quatro obras de Bacon, cujos modelos retorcidos parecem monstros engaiolados, qual a "Figura
Sentada", de 61, e a "Segunda Versão do Tríptico" (44/ 88).
Ladeia-o David Hockney, cuja
tela pop "A Bigger Splash" (67) dá
nome à mostra. Seu retrato do casal "Mr. and Mrs. Clark and
Percy" (71) parece propaganda de
uma vida despreocupada. Ecos da
pincelada moderna estão, sucessivamente, na "Cecil Court" (1983),
de Kitaj, na "Christ Church"
(1990), de Kossof, na "Figura sobre Cama" (1967-70), de Auerbach. Mas é na cabeça de "Leigh
Bowery" (1991), de Lucien Freud,
que o óleo sobre tela prova manter o padrão de excelência.
O viés foto-realista predomina
entre bidimensionais. O preciso e
fantástico retrato equestre "Half-Brother" (1994), de Mark Wallinger, funde meio cavalo castanho a
outro escuro no díptico pintado
em escala real. As fotografias urbanas de Hannah Starkey, Donald Rodney, Seamus Nicholson,
Rut Blees Luxemburg e Sarah Lucas reportam-se a temas como gênero, raça e sexualidade.
Mesmo os conceituais são bem
comportados. Até o painel "Cunt
Scum" (1977), de Gilbert and
George, torna-se poético quando
defrontado a "England" (1980) e a
"Red Morning Trouble" (1977),
ambos da mesma dupla.
Os tridimensionais apresentam
maior variedade. Anthony Caro,
cuja escultura construtiva teve
impacto internacional desde a década de 60, está representado por
"Early One Morning" (1962).
As solitárias poses humanas de
Gormley aparecem no "Three
Ways: Mould, Hole and Passage"
(1981). Grupos de utensílios de
prataria inglesa amassada parecem flutuar num só plano nas
"Thirty Pieces of Silver" (1988), de
Cornelia Parker.
O conjunto é historicamente
bem pontuado, e a visita, agradável. A ausência de riscos maiores
projeta imagem discreta de solidez e elegância.
A Bigger Splash
Onde: Pavilhão da Oca (av. Pedro
Álvares Cabral, s/nš, portões 2 e 3,
parque Ibirapuera, região sul, s/ tel.)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 21h;
até 26/10
Quanto: R$ 6
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