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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

"A Bigger Splash" apresenta obras da produção britânica das últimas quatro décadas pertencentes ao acervo da galeria londrina

Tate se mostra conservadora e elegante

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"A Bigger Splash" é mostra conservadora. Reúne centena de peças de artistas britânicos dos últimos 40 anos, numa seleção que privilegia gêneros tradicionais dentre a pluralidade.
O acervo provém da Tate Gallery. A instituição museológica representa uma força tradicionalista. Em 1938, seu diretor recusou-se a liberar a entrada alfandegária de uma exposição de escultura moderna curada por Marcel Duchamp para Peggy Guggenheim, que pretendia montar a coletiva em Londres. Se as peças de Brancusi, Pevsner, Arp, Henri Laurens e Calder fossem tocar o solo inglês, que ingressassem como mercadorias de bronze ou mármore. Mr. Manson não as avalizava como arte, pois ao dirigente da Tate cabia a autoridade legal sobre o assunto.
Longe vão os anos de resistência à vanguarda, sobretudo após a recente inauguração da Tate Modern. Contudo a curadoria trazida ao parque Ibirapuera evita o experimentalismo da arte jovem em favor da maturidade de quadros e esculturas.
O conjunto é equilibrado e claramente distribuído. A chegada é ascencional, pois o visitante deve subir ao topo da calota arquitetônica da Oca por rampas amarelas em espiral, ladeadas de corrimãos tubulares brancos. A cenografia provisória dialoga com o espaço expositivo para criar um percurso de visita de cima até o subsolo.
O primeiro bloco agrupa os grandes da pintura figurativa. O Reino Unido manteve a tradição da figura após a Segunda Guerra, apesar do apelo internacional do abstrato. Somos recebidos por quatro obras de Bacon, cujos modelos retorcidos parecem monstros engaiolados, qual a "Figura Sentada", de 61, e a "Segunda Versão do Tríptico" (44/ 88).
Ladeia-o David Hockney, cuja tela pop "A Bigger Splash" (67) dá nome à mostra. Seu retrato do casal "Mr. and Mrs. Clark and Percy" (71) parece propaganda de uma vida despreocupada. Ecos da pincelada moderna estão, sucessivamente, na "Cecil Court" (1983), de Kitaj, na "Christ Church" (1990), de Kossof, na "Figura sobre Cama" (1967-70), de Auerbach. Mas é na cabeça de "Leigh Bowery" (1991), de Lucien Freud, que o óleo sobre tela prova manter o padrão de excelência.
O viés foto-realista predomina entre bidimensionais. O preciso e fantástico retrato equestre "Half-Brother" (1994), de Mark Wallinger, funde meio cavalo castanho a outro escuro no díptico pintado em escala real. As fotografias urbanas de Hannah Starkey, Donald Rodney, Seamus Nicholson, Rut Blees Luxemburg e Sarah Lucas reportam-se a temas como gênero, raça e sexualidade.
Mesmo os conceituais são bem comportados. Até o painel "Cunt Scum" (1977), de Gilbert and George, torna-se poético quando defrontado a "England" (1980) e a "Red Morning Trouble" (1977), ambos da mesma dupla.
Os tridimensionais apresentam maior variedade. Anthony Caro, cuja escultura construtiva teve impacto internacional desde a década de 60, está representado por "Early One Morning" (1962).
As solitárias poses humanas de Gormley aparecem no "Three Ways: Mould, Hole and Passage" (1981). Grupos de utensílios de prataria inglesa amassada parecem flutuar num só plano nas "Thirty Pieces of Silver" (1988), de Cornelia Parker.
O conjunto é historicamente bem pontuado, e a visita, agradável. A ausência de riscos maiores projeta imagem discreta de solidez e elegância.


A Bigger Splash
    
Onde: Pavilhão da Oca (av. Pedro Álvares Cabral, s/nš, portões 2 e 3, parque Ibirapuera, região sul, s/ tel.)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 21h; até 26/10
Quanto: R$ 6



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