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Shows lembram violonista Garoto
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Diz a voz da experiência, no caso a do multiinstrumentista e
compositor cearense Zé Menezes,
84, que a história do violão tem
um divisor de águas: Annibal Augusto Sardinha, o Garoto.
No ano em que faria 90 anos -e
também no qual se completam os
50 anos de sua morte-, o violonista paulista tem sua obra revisitada em uma série de apresentações que têm início hoje no Sesc
Consolação, em São Paulo.
Autor de um CD no qual relê
composições do músico, Zé Menezes abre o ciclo "Ao Garoto".
"Uma coisa é certa: o violão, até
os anos 50, era uma coisa. Tinha
uma maneira bem mais simples.
O Garoto modificou completamente a maneira de tocar. Ele já
nasceu bossa nova", diz.
Quando fala de Garoto, Menezes o faz não só por ser também
um virtuoso nos instrumentos de
corda, mas por ter convivido com
o violonista entre o final da década de 40 e o começo da de 50, período em que ambos trabalharam
na rádio Nacional. "Quando eu
cheguei do Norte, em 43, vim
substituir o Garoto na [rádio]
Mayrink Veiga. Em 47, o Garoto
me levou para a rádio Nacional
para fazer duo com ele", conta.
"Ele participava dos programas
como guitarrista de base, mas
também fazia solos."
Empurrão
Numa época em que o violão e a
guitarra não tinham posição de
destaque nas orquestras -eram
tidos apenas como instrumentos
de base-, Menezes destaca a importância de Garoto, ao impor os
solos de violão, e relembra o empurrão dado pelo maestro Radamés Gnatalli (1906-1988). "Ele fazia uns números isolados para
que a gente se destacasse", conta.
"Eu sofri uma influência muito
grande do Garoto e do Radamés.
A convivência faz a gente entrar
naquele caminho. Aprendi tocando com o Garoto. Era excepcional. Só teve uma coisa ruim: ele foi
embora muito cedo."
Morto prematuramente aos 39
anos, Garoto foi mais que um harmonizador sofisticado -característica que faz sua obra ser considerada precursora da bossa nova.
Era também compositor: fez "São
Paulo Quatrocentão", sucesso de
vendas na época, e "Gente Humilde", que anos mais tarde ganhou
letra de Chico Buarque e Vinicius
de Moraes.
Repertório obrigatório, segundo Menezes, essas duas músicas
serão mescladas, nos shows de
hoje e de amanhã, às suas composições. Entre elas está "Três Amigos", na qual retrata/homenageia
a sua maneira de tocar, a de Gnatalli e a de Garoto. "Dá para perceber a diferença de estilo. A minha
é romântica, a do Radamés, mais
técnica, e a do Garoto, sentimental", define Menezes.
Outros arranjos
Estudioso da obra de Garoto, o
músico Camilo Carrara, 37, faz
um tributo a ele enfocando as músicas compostas originalmente
para violão solo entre os anos 40 e
50.
"Vou mostrar arranjos para
dois violões, para violão e sopro e
alguns para violão, cavaquinho e
saxofone", conta Carrara. "A intenção é mostrar dois aspectos
muito interessantes: a diferença
harmônica, a melodia e os contrapontos da música de Garoto."
Convidada especial, Vânia
Abreu cantará "Gente Humilde" e
"Duas Contas". O repertório tem
ainda "Tristeza de um Violão" e
"Lamento do Morro".
"O Garoto, apesar de revolucionário, era um músico popular, tocava em rádios e com Carmen Miranda, mas teve um contato forte
com Radamés, que se desdobrava
entre o erudito e o popular", explica a cantora.
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