São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2005

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Shows lembram violonista Garoto

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Diz a voz da experiência, no caso a do multiinstrumentista e compositor cearense Zé Menezes, 84, que a história do violão tem um divisor de águas: Annibal Augusto Sardinha, o Garoto.
No ano em que faria 90 anos -e também no qual se completam os 50 anos de sua morte-, o violonista paulista tem sua obra revisitada em uma série de apresentações que têm início hoje no Sesc Consolação, em São Paulo.
Autor de um CD no qual relê composições do músico, Zé Menezes abre o ciclo "Ao Garoto".
"Uma coisa é certa: o violão, até os anos 50, era uma coisa. Tinha uma maneira bem mais simples. O Garoto modificou completamente a maneira de tocar. Ele já nasceu bossa nova", diz.
Quando fala de Garoto, Menezes o faz não só por ser também um virtuoso nos instrumentos de corda, mas por ter convivido com o violonista entre o final da década de 40 e o começo da de 50, período em que ambos trabalharam na rádio Nacional. "Quando eu cheguei do Norte, em 43, vim substituir o Garoto na [rádio] Mayrink Veiga. Em 47, o Garoto me levou para a rádio Nacional para fazer duo com ele", conta. "Ele participava dos programas como guitarrista de base, mas também fazia solos."

Empurrão
Numa época em que o violão e a guitarra não tinham posição de destaque nas orquestras -eram tidos apenas como instrumentos de base-, Menezes destaca a importância de Garoto, ao impor os solos de violão, e relembra o empurrão dado pelo maestro Radamés Gnatalli (1906-1988). "Ele fazia uns números isolados para que a gente se destacasse", conta. "Eu sofri uma influência muito grande do Garoto e do Radamés. A convivência faz a gente entrar naquele caminho. Aprendi tocando com o Garoto. Era excepcional. Só teve uma coisa ruim: ele foi embora muito cedo."
Morto prematuramente aos 39 anos, Garoto foi mais que um harmonizador sofisticado -característica que faz sua obra ser considerada precursora da bossa nova. Era também compositor: fez "São Paulo Quatrocentão", sucesso de vendas na época, e "Gente Humilde", que anos mais tarde ganhou letra de Chico Buarque e Vinicius de Moraes.
Repertório obrigatório, segundo Menezes, essas duas músicas serão mescladas, nos shows de hoje e de amanhã, às suas composições. Entre elas está "Três Amigos", na qual retrata/homenageia a sua maneira de tocar, a de Gnatalli e a de Garoto. "Dá para perceber a diferença de estilo. A minha é romântica, a do Radamés, mais técnica, e a do Garoto, sentimental", define Menezes.

Outros arranjos
Estudioso da obra de Garoto, o músico Camilo Carrara, 37, faz um tributo a ele enfocando as músicas compostas originalmente para violão solo entre os anos 40 e 50.
"Vou mostrar arranjos para dois violões, para violão e sopro e alguns para violão, cavaquinho e saxofone", conta Carrara. "A intenção é mostrar dois aspectos muito interessantes: a diferença harmônica, a melodia e os contrapontos da música de Garoto."
Convidada especial, Vânia Abreu cantará "Gente Humilde" e "Duas Contas". O repertório tem ainda "Tristeza de um Violão" e "Lamento do Morro".
"O Garoto, apesar de revolucionário, era um músico popular, tocava em rádios e com Carmen Miranda, mas teve um contato forte com Radamés, que se desdobrava entre o erudito e o popular", explica a cantora.


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