São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2005

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MÚSICA

Grupo, que cria improvisações sonoras, toca às segundas na Vila Madalena

Hurtmold une tons de rock e jazz

ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Estava uma noite perfeita para ficar em casa, "no quentinho": uma segunda-feira de chuva e frio. Ainda assim, no último dia 12, uma banda de música instrumental experimental lotou um pequeno restaurante na Vila Madalena e surpreendeu quem estava lá com uma das performances mais instigantes em temporada na cidade.
O tal grupo é o Hurtmold, que fica em cartaz até o fim deste mês, no Grazie a Dio! -ainda sem previsão de prorrogação. Durante uma hora, o sexteto fez um show que alternou momentos para ouvir em silêncio, prestando atenção às diversas camadas sonoras que eles sobrepunham, com outros em que predominava uma barulheira que fazia o público vibrar.
Com um esforço, dava para reconhecer algumas faixas de seu álbum mais recente, "Mestro", lançado em 2004 pelo selo indie Submarine. Mas, na maior parte do tempo, imperava um clima de improviso com momentos jazzísticos, que lembravam a fase elétrica de Miles Davis, e outros em que se destacava a assumida influência do pós-rock, de bandas como Tortoise e Chicago Underground.
Não por acaso, a apresentação da última semana teve a participação do norte-americano radicado no Brasil Rob Mazurek, trompetista do trio Chicago Underground, responsável por alguns dos momentos mais brilhantes da noite -ele não participa do restante da temporada.
Esse é o mesmo show que eles mostraram na versão paulistana do sonarsound, em 2004, e que levou ao convite para participar da edição espanhola do evento, em junho deste ano, em Barcelona. "Estamos em uma "p..." época boa. Há uma receptividade e um interesse muito grande pela banda", fala o multiinstrumentista Maurício Takara, 23.
Como para a maioria dos independentes, a sorte não esteve sempre ao lado do Hurtmold. O grupo existe desde 1998 e já lançou dois registros em fita cassete, três CDs -"Et Cetera" (2000), "Cozido" (2002) e "Mestro" (2004)-, além de um disco com faixas próprias e do trio de Chicago The Eternals. Foi só entre 2003 e 2004 que eles entraram no line-up dos festivais. "Financeiramente é uma loucura", diz Takara. "Ser independente é complicado para caramba. Ninguém consegue viver do Hurtmold."
Takara, o menino-prodígio do grupo, que participa ainda do coletivo Instituto e mantém o projeto solo M.Takara -com o qual já fez dois álbuns-, conta que se surpreende com a receptividade do público. "É um som que não está nem um pouco em evidência. A gente não se restringe ao padrão verso, refrão, verso. A tendência é fazermos uma música mais livre, entre rock e jazz."
A essas influências, eles adicionam ainda ritmos brasileiros, como o samba e o maracatu, que são executados em versões irreconhecíveis. "Já tocamos até Cartola. Mas sempre de uma forma bem aberta, sem nenhum tipo de tradição", explica Takara. "Somos bastante rock, pela instrumentação, pela pegada, mas barulhentos demais para o jazz e a MPB. Seria um rock livre, talvez...."


Hurtmold
Onde:
Grazie a Dio! (r. Girassol, 7, Vila Madalena, tel. 0/xx/11/3031-6568)
Quando: hoje, às 22h
Quanto: R$ 10


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