São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2001

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RESENHA

Autor revela dimensão artística do cantor

DA REPORTAGEM LOCAL

Se biografia é gênero sempre a um passo da linearidade, especialmente quando trata de acompanhar o (quase sempre chato) passo a passo da vida cotidiana da personalidade-alvo, Luís Antônio Giron se sai com habilidade desses tropeços em "Mario Reis - O Fino do Samba".
Não é que seu livro escape de todas as limitações do gênero -o início vagaroso, barrigas aqui e ali-, mas o pulso da narrativa cresce aos poucos, envolve aos poucos, vai se fazendo transparente aos poucos.
Conforme se vence o livro, vai se percebendo que Giron opta por hipertrofiar os momentos artisticamente volumosos do artista, na mesma medida em que dá saltos sobre o extenso período de ostracismo.
Pode a priori parecer dificuldade de acesso, mas o que se tem ao final é, de fato, uma biografia de artista, mais que do advogado, misógino e direitista que Mario deve ter sido (ainda segundo Giron relata, não sem certa complacência e simpatia).
Tal marcação de pulso revela a dimensão artística de Mario, que andava genuinamente jogada no latão da história.

Perguntas e incertezas
Nos presenteia com a (falsa) pólvora de que João Gilberto não foi o primeiro, vá lá, gênio da música popular daqui, e que a invenção é artigo constante, ainda que intermitente, nesse nosso cenário desolado.
O melhor, para quem não quer conclusões definitivas: seu texto cava um vale de novas perguntas e de incertezas (inclusive sobre o biografado).
Por que o modo de cantar de Mario não triunfou imediatamente e João Gilberto mais tarde ficou como único inventor da lâmpada? Por que o nexo demorou mais 20 anos para se refazer? Por que Francisco Alves foi enterrado com o aval das multidões e a seu velho parceiro de início de jornada restaram o exílio artístico voluntário e uma modesta despedida?
A pergunta é até mais simples, e ela é que fica quando se convence de que o eleito de Giron foi bem mais que reminiscência do baú da vovozinha.
Por que o Brasil sempre teima em dançar dois para lá, dois para cá, feito pateta embebedado? Bem, não é Mario Reis quem vai decifrar esse enigma.
(PAS)

Mario Reis - O Fino do Samba
   
Autor: Luís Antônio Giron
Editora: 34
Quanto: R$ 29 (320 págs.)



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