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RESENHA
Autor revela dimensão artística do cantor
DA REPORTAGEM LOCAL
Se biografia é gênero sempre a um passo da linearidade,
especialmente quando trata de
acompanhar o (quase sempre
chato) passo a passo da vida cotidiana da personalidade-alvo, Luís
Antônio Giron se sai com habilidade desses tropeços em "Mario
Reis - O Fino do Samba".
Não é que seu livro escape de todas as limitações do gênero -o
início vagaroso, barrigas aqui e
ali-, mas o pulso da narrativa
cresce aos poucos, envolve aos
poucos, vai se fazendo transparente aos poucos.
Conforme se vence o livro, vai se
percebendo que Giron opta por
hipertrofiar os momentos artisticamente volumosos do artista, na
mesma medida em que dá saltos
sobre o extenso período de ostracismo.
Pode a priori parecer dificuldade de acesso, mas o que se tem ao
final é, de fato, uma biografia de
artista, mais que do advogado,
misógino e direitista que Mario
deve ter sido (ainda segundo Giron relata, não sem certa complacência e simpatia).
Tal marcação de pulso revela a
dimensão artística de Mario, que
andava genuinamente jogada no
latão da história.
Perguntas e incertezas
Nos presenteia com a (falsa)
pólvora de que João Gilberto não
foi o primeiro, vá lá, gênio da música popular daqui, e que a invenção é artigo constante, ainda que
intermitente, nesse nosso cenário
desolado.
O melhor, para quem não quer
conclusões definitivas: seu texto
cava um vale de novas perguntas e
de incertezas (inclusive sobre o
biografado).
Por que o modo de cantar de
Mario não triunfou imediatamente e João Gilberto mais tarde
ficou como único inventor da
lâmpada? Por que o nexo demorou mais 20 anos para se refazer?
Por que Francisco Alves foi enterrado com o aval das multidões e a
seu velho parceiro de início de
jornada restaram o exílio artístico
voluntário e uma modesta despedida?
A pergunta é até mais simples, e
ela é que fica quando se convence
de que o eleito de Giron foi bem
mais que reminiscência do baú da
vovozinha.
Por que o Brasil sempre teima
em dançar dois para lá, dois para
cá, feito pateta embebedado?
Bem, não é Mario Reis quem vai
decifrar esse enigma.
(PAS)
Mario Reis - O Fino do Samba
Autor: Luís Antônio Giron
Editora: 34
Quanto: R$ 29 (320 págs.)
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