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Teatro

Músico fala sobre Pablo Escobar em peça

O percussionista colombiano Danilo Jiménez está no elenco de 'Discurso de un Hombre Decente', em cartaz hoje em SP

'Ele sacou sua arma e mandou todos ficarem nus', conta Don Danilo, que tocou em festas do traficante de Medellín

GUSTAVO FIORATTI ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

A entrevista h avia começado fazia dez minutos. O percussionista colombiano Danilo Jiménez, 76, apanhou a mão direita do repórter e a conduziu à parte de trás de sua cabeça. No crânio dele, há um buraco mais ou menos do tamanho de um limão.

Don Danilo --assim chamado por seus colegas de trabalho-- perdeu parte da caixa craniana em 1991, ao ser atingido por estilhaços de uma bomba, durante um atentado atribuído ao traficante Pablo Escobar (1949-1993) contra a polícia colombiana. Estava no lugar errado, na hora errada. Na explosão, perdeu sua mulher e três amigos músicos.

Entrevistar o percussionista é um exercício de espera, porque sua memória permanece afetada até hoje.

"As lembranças vêm e de repente me escapam", explica ele, que está de passagem por São Paulo, no elenco da peça "Discurso de un Hombre Decente", da companhia colombiana Mapa Teatro. A presença de Don Danilo nesse espetáculo vem ao encontro de uma pesquisa que se tornou comum nas artes cênicas latino-americanas contemporâneas: o teatro de depoimentos. Ele não sabe atuar, mas não importa.

Segundo a diretora Heidi Abderhalden, colocá-lo em cena amarra uma forma de desestabilizar o espectador, que não distingue o que é real do que é ficcional. Amarradas a outros depoimentos, as histórias de Don Danilo abrem-se para "um amplo debate" acerca das políticas de combate ao tráfico de drogas.

Depois de passar pelo Festival Internacional de São José do Rio Preto, a peça foi apresentada ontem no Sesc Vila Mariana e tem mais uma sessão hoje, às 21h.

Algumas histórias de Don Danilo são projetadas por escrito em uma tela em cena. Ele conheceu Pablo Escobar pessoalmente, porque foi contratado várias vezes para tocar nas festas organizadas pelo internacionalmente procurado chefe da máfia de Medellín. Por trás do "homem que se vestia modestamente", conta Danilo, morava outro, com "sede de poder".

As histórias de Don Danilo são típicas de um filme de gênero. Para algumas festas de Escobar, ele teve de viajar de olhos vendados. Conta que chegou a tocar em celebrações que duravam até cinco dias regadas a cocaína, em sítios localizados nos arredores de Medellín, na presença de prostitutas, bandidos e gente comum também. "Tocávamos até o último bêbado cair", conta. "Dormíamos e voltávamos a tocar."

Escobar tinha fixação por algumas canções, como "Senderito de Amor", e comportava-se de maneira sempre imprevisível, relata o músico.

Em uma das festas, o traficante sacou sua arma e ordenou que os convidados ficassem todos nus. "Vou contar até três, e aquele que continuar de roupa eu mato", disse ele, segundo Don Danilo. Inclusive os músicos da banda tiveram de tirar a roupa.


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