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Crítica - Comédia dramática

Elenco desliza nas passagens cômicas, mas discurso de Mamet é bem utilizado

MARCIO AQUILES DE SÃO PAULO

Desvendar ao público histórias de coxia e a intimidade de dois atores é a proposição inicial de "Uma Vida no Teatro", peça de 1977 do dramaturgo e cineasta americano David Mamet adaptada por Alexandre Reinecke.

Por meio da exposição do relacionamento profissional e afetivo entre os atores Robert (Francisco Cuoco) e John (Ângelo Paes Leme), a peça alterna cenas em que ambos discutem as vicissitudes do trabalho e outras em que representam esquetes do espetáculo protagonizado por eles.

A cenografia de André Cortez é composta de módulos de madeira rotacionais. Essas estruturas ficam inicialmente dispostas com a parte de trás exposta ao público, representando as ações ocorridas no camarim e nas salas de ensaio do teatro.

Ao longo da peça, os módulos são manipulados pelos atores de forma a transformarem-se no cenário frontal do palco, onde se realiza a encenação da qual participam.

Essa alternância valoriza o jogo metateatral e poderia ser utilizada mais vezes, já que na maior parte do tempo as estruturas permanecem inertes.

As trocas de figurino são constantes, mas aparecem mais como maneirismo do que como artifício que enriqueça a teatralidade. O mesmo vale para o desenho de luz, que, apesar das variações, não consegue promover uma mudança significativa na atmosfera entre as cenas.

INTERPRETAÇÃO

Os dois atores usam com propriedade as elipses de Mamet --recurso em que certas palavras são suprimidas, frases ficam incompletas--, aproximando seus registros de uma dicção naturalista.

Apesar de eliminar artificialismos na impostação de voz, o procedimento causa dissonância entre os atores em alguns momentos, principalmente nas passagens cômicas, quando fragilidades na atuação ficam evidentes.

Os trechos dramáticos, por outro lado, são carregados de intensidade, principalmente na segunda metade da peça, quando a decadência de Robert é incorporada com maestria por Francisco Cuoco.

Apesar de algumas irregularidades, a maioria dos deslizes da montagem é ofuscada pela plasticidade da cena final, quando a solidão do ator no camarim derruba a cortina que oculta os perrengues de uma vida no teatro.


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