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Crítica - Música erudita

Filarmônica de Bremen marca época em SP e Beethoven manda seu 'abraçaço'

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

"Há obras das quais se pode dizer que não só se preservam, mas têm uma história em que se desdobra o seu sentido". A frase de Carl Dahlhaus parece se aplicar ao ciclo das sinfonias de Beetho'ven (1770-1827) que acaba de ser apresentado pela Filarmônica de Câmara Alemã de Bremen em São Paulo.

Regida pelo estoniano Paavo Järvi, a orquestra interpretou os 37 movimentos que formam o legado de suas nove obras, em apenas quatro dias, para um público que lotou o Theatro Municipal e a Sala São Paulo.

Beethoven reinventou a sinfonia clássica. Suas construções frequentemente abdicam das melodias cantáveis, e a música passa a ser feita, por exemplo, sobre elementos como notas repetidas, arpejos ou intervalos.

Já no primeiro dia (1/8) viu-se como Järvi valoriza as minúcias e faz aflorar estruturas (como na "Segunda Sinfonia"), sem deixar de cuidar do som em si (como o espetacular pianíssimo no fim da "Sinfonia n.1").

Na "Terceira" foram marcantes a solenidade da marcha, a percussividade do scherzo e os encurtamentos e expansões das frases no finale.

Ainda na acústica aconchegante do Municipal, a sexta-feira (2/8) foi o dia perfeito. Järvi posiciona os músicos a partir dos instrumentos graves: contrabaixos à esquerda, violoncelos e fagotes no centro e tímpanos à direita sustentam o virtuosismo de violinos, violas, madeiras e metais.

Entre a "Quarta" e a "Quinta", a mudança na arte de Beethoven é brutal: a música parece escancarar as cicatrizes do espírito, há uma urgência inédita, como se --pela primeira vez-- o som saísse do corpo para tomar a cidade.

DISPERSÃO

A orquestra, porém, sentiu a mudança para a acústica luminosa, mas menos quente, da Sala São Paulo e, no sábado (3/8), algumas desconcentrações (somadas a um público mais disperso) mostraram que os músicos de Bremen também são humanos.

Ainda assim foi possível contemplar a "Pastoral" --tentativa irônica de recuperar uma era sem ironias-- e o beat desenfreado da "Sétima".

No domingo (4/8), entretanto, os gestos amplos de Järvi já haviam domado o som da Sala.

Foram muitos momentos memoráveis, da economia da "Oitava" à explosão dos dois temas da ode de Schiller no final da "Nona": é o "abraçaço" que, através dos tempos, Beethoven manda para os milhões de humanos.


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