São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

Próximo Texto | Índice

PLANO DIRETOR EM DEBATE

Moradores querem que aeroporto reduza vôos; aquífero subterrâneo também é problema

Congonhas tira o sono do Campo Belo

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Para identificar boa parte dos problemas enfrentados pelo distrito Campo Belo, basta olhar para cima: não há uma infra-estrutura compatível com o gigantismo do vai-e-vem de aviões no aeroporto de Congonhas.
"Sua presença causa inquietude", define Márcio Luiz da Costa, 40, coordenador do plano de Santo Amaro (macrorregião onde Campo Belo está inserido). "Provoca acidentes, barulho e complicações no tráfego de veículos."
De acordo com Antonio Cunha, 48, diretor-presidente do Movibelo (Movimento de Moradores do Campo Belo), "é fundamental a revisão do papel do aeroporto, que deveria ser regional".
Esse projeto faria com que as empresas e serviços que municiam seu funcionamento fossem alocadas para o interior da estrutura, num grande condomínio.
Hoje, a situação percebida é oposta à ideal. A oferta de serviços ligados à atividade se espalha pelos bairros vizinhos. É o caso dos pontos de táxi, que atraem o comércio ambulante, e das cargas e descargas de caminhões nos galpões ao longo das avenidas Washington Luís e Rubem Berta.
"Aquelas imediações estão deterioradas", opina a arquiteta e urbanista Regina Monteiro, do Movimento Defenda São Paulo. "No trecho da av. Washington Luís em frente ao aeroporto, por exemplo, não existem calçadas."
O trânsito na região também está longe de um "céu de brigadeiro". "Desde 1995, o número de pessoas que passam por Congonhas saltou de 4,5 milhões para 12 milhões ao ano", diz Monteiro.
Cunha, do Movibelo, reclama do sistema viário, do qual fazem parte a própria Washington Luís e as av. dos Bandeirantes e Vereador José Diniz. "Ruas internas, como a Demóstenes e a Otávio Tarquínio de Souza, utilizadas para passagem, recebem mais tráfego do que deveriam."

Proteção ambiental
Ao voltar os olhos para o chão, a prioridade do morador é o aquífero (reserva subterrânea de água), localizado abaixo da avenida Professor Vicente Rao.
"Representantes dos bairros se uniram para criar um projeto de lei para proteger o ambiente local", afirma Mamoru Tinone, 65, presidente da Sociedade Amigos do Brooklin Paulista.
Outro objeto de discussão é a preservação da zona estritamente residencial em vigência. "Há casos em que a legislação é desobedecida com a instalação de comércio e de escritórios", denuncia Tinone. "Na rua Sônia Ribeiro, por exemplo, localiza-se uma casa que é alugada para festas."
Ele protesta ainda contra a proliferação de condomínios horizontais, "que derrubam árvores e adensam a região".
Para Luiz da Costa, há forte especulação imobiliária no Campo Belo. Mas as possibilidades de adensamento são limitadas, apesar de o distrito ter perdido população na última década. "Poderia existir ao longo da av. Água Espraiada, mas é preciso haver instrumentos de controle nas demais regiões", diz Regina Monteiro.
Na av. Água Espraiada, há uma operação urbana já definida. A maior preocupação ali é com a favela, que tem de ser reurbanizada.
Além disso, existe a preocupação de dar identidade cidadã aos trabalhadores que moram no distrito. É por isso que o Movibelo propõe uma cooperativa para a prestação de serviços de limpeza e de coleta seletiva em equipamentos da região. (EDSON VALENTE)


Próximo Texto: Cursino vive dilema sobre crescimento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.