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Argentina segura dólares e sugere a importador que atrase pagamentos

Medidas objetivam evitar saída de moeda estrangeira do país, que já está com reservas baixas

Restrição atinge Brasil, que exportou US$ 19 bi para o vizinho em 2013; calote é preocupação de empresas brasileiras

RAQUEL LANDIM DE SÃO PAULO VALDO CRUZ DE BRASÍLIA LÍGIA MESQUITA DE BUENOS AIRES

O Banco Central da Argentina interrompeu a liberação de dólares para as importações e pediu que as empresas posterguem os pagamentos a seus fornecedores por 90 a 180 dias. Hoje os prazos estão entre 30 e 45 dias.

O objetivo é evitar a deterioração das reservas internacionais, que estão em apenas US$ 27,8 bilhões. A medida vale para as grandes empresas dos setores automotivo, siderúrgico, agroquímico e eletrônico, que já encontram dificuldades para obter dólares desde a semana passada.

A expectativa otimista é que a retenção de dólares para as importações termine em maio, quando entram os recursos da exportação da safra de soja. Mas a equipe econômica argentina já alertou as empresas para que busquem financiamento no exterior para pagar suas importações.

A restrição atinge diretamente o Brasil, que exportou US$ 19 bilhões para a Argentina em 2013. As empresas brasileiras vão receber com atraso e temem um risco de calote se o país quebrar.

O setor automotivo é o mais prejudicado, porque representa metade do intercâmbio. Com fábricas nos dois países, as empresas trocam partes, peças e carros prontos.

Executivos de montadoras ouvidos pela reportagem ainda não decidiram o que fazer, mas há risco de interrupção no envio de peças para a Argentina, porque ninguém quer elevar sua dívida em dólar com o país.

O governo brasileiro estuda avalizar uma linha de crédito para destravar o comércio, mas o receio de que o dinheiro fique em "quarentena" complicou a negociação (leia texto ao lado).

A crise no parceiro do Mercosul pode piorar o já fraco resultado da balança comercial brasileira, que registrou superavit de apenas US$ 2,6 bilhões em 2013. Também deve afetar a produção nacional de veículos, com reflexos negativos para a indústria e o PIB (Produto Interno Bruto). Em janeiro, as exportações brasileiras para a Argentina caíram 23,1% --muito abaixo da média geral (alta de 0,4%).

REUNIÕES INFORMAIS

Como já é praxe no governo Cristina Kirchner, a interrupção de pagamento das importações não foi anunciada oficialmente. As novas regras foram comunicadas aos empresários em três reuniões informais nos últimos dias.

O primeiro encontro entre empresários de vários setores e o governo ocorreu no fim da semana passada. Participaram o ministro da Economia, Alex Kicillof, e o chefe de gabinete, Jorge Capitanich.

Na terça-feira, o setor automotivo teve nova reunião com a ministra da Indústria, Débora Giorgi, e o secretário de Comércio, Augusto Costa. Técnicos do BC também se reuniram com as empresas.

Em todos os encontros, a mesma mensagem: as empresas que importam precisam conseguir linhas de financiamento em dólar no exterior para pagar aos fornecedores.

O governo Cristina Kirchner tenta ganhar tempo. Com as linhas de crédito, as empresas pagariam de imediato os fornecedores, mas tem que honrar os financiamentos com os bancos no futuro.

E nada garante que o BC argentino terá os dólares necessários nessa época.

Segundo a Folha apurou com o governo argentino, o "pedido" foi para que as empresas reprogramem os pagamentos para o próximo trimestre. "Explicamos para levarem em conta que as reservas internacionais estão baixas. Mas não foi uma ordem", diz um funcionário. Procurados, os ministérios envolvidos não deram entrevista.


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