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Presidente do BC dos EUA defende cautela com juros
Yellen admite que, se melhora da economia surpreender, alta pode vir antes
Desemprego preocupa, e responsáveis pela política monetária do país divergem sobre quando elevar taxas
A presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, ressaltou a necessidade de cautela com a recuperação da economia americana, que começa a engrenar, e com uma eventual elevação das taxas de juros do país.
Em discurso nesta sexta (22) na abertura da conferência de Jackson Hole, cidade no Estado de Wyoming (norte dos EUA) que anualmente recebe presidentes de bancos centrais mundo afora, Janet Yellen lembrou que, apesar do melhor desempenho do país, o mercado de trabalho não voltou ao nível pré-crise.
Mas ela ressalvou que, se a situação melhorar mais rápido do que o esperado, os juros também poderiam subir antes do que o planejado.
"Se o progresso no mercado de trabalho continuar mais rápido do que o Comitê [de política monetária] espera ou se a inflação subir mais rápido do que o esperado... então o aumento das taxas [básicas de juros] pode ocorrer mais cedo do que o Comitê planeja e pode acontecer com mais rapidez depois."
Apesar de admitir a possibilidade, Yellen deixou o cenário em aberto, refletindo divergências entre os responsáveis pela política monetária do país relatadas na ata da última reunião do comitê, divulgada na quinta-feira.
O discurso, definido pelo "New York Times" como uma "longa explicação do porquê da cautela do Fed" com a retirada dos estímulos à economia, era esperado pelo mercado financeiro para detectar sinais do futuro dos juros.
Uma elevação das taxas nos EUA pode atrair investidores que hoje aplicam no Brasil. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, recuou 0,99% para 58.407 pontos, enquanto o dólar comercial, usado no comércio exterior, encerrou o dia com alta de 0,57%, a R$ 2,281.
Atualmente a taxa básica nos EUA flutua entre zero e 0,25% ao ano, como estímulo à retomada (outra medida, a recompra de títulos do Tesouro, acaba em outubro).
A expectativa de investidores e de parte dos membros do comitê é que a melhora dos índices econômicos possibilite um aumento das taxas para conter a inflação.
Yellen, porém, defende que juros baixos estimulariam a criação de vagas (o desemprego em julho nos EUA foi de 6,2%) e diz que a definição do timing da alta é "especialmente desafiadora".
Ainda assim, o discurso em Jackson Hole marca uma virada para o Fed, avalia o jornal "Financial Times": seu foco passa a ser quando os juros precisam subir, e não a necessidade de mais medidas de recuperação econômica.