São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

Resolução do custo Brasil é crucial para assegurar a competitividade do país

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não surpreende que fomos dos países que tiveram maior acréscimo nas importações em 2010. As razões são conhecidas, mas nem sempre claramente explicitadas.
A primeira explicação está ligada ao robusto crescimento da economia brasileira em 2010. Quando um país cresce no patamar de 7,5% a 8%, importar é uma necessidade. Não só essa expansão acontece para acompanhar a demanda maior como também favorece empresas, que buscam elevar a produção para aumentar a produtividade.
Portanto, é de prever que, com aceleração do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), haja maior demanda de bens importados, principalmente de bens de produção. O real valorizado incentivou as importações.
Esse incremento não tem sido registrado exclusivamente por quem está buscando ampliar sua produção, mas também de forma crescente por um acelerado processo de substituição de produtos locais por importados.
É cada vez maior o clamor de alguns setores industriais que estão perdendo mercado, principalmente para produtos da China e de outros países asiáticos que vêm servindo de biombo para as exportações chinesas.
Olhando pelo lado positivo, um câmbio mais favorável torna os produtos importados mais baratos. Portanto, podemos comprar produtos (em geral de boa qualidade) a preços mais favoráveis. Produtos importados obrigam os nacionais a melhorar a produção. A indústria automobilística é um bom exemplo.
Do lado negativo, no qual encontramos o cerne da questão para os produtores nacionais, a assimetria é fator relevante. Caso os preços relativos que compõem a base de custo dos produtores (inclusive salários) tivessem uma redução percentual equivalente à valorização da nossa moeda, teríamos uma situação de equilíbrio.
Quando e se acontece, é em um outro tempo, quando o estrago já aconteceu.
Alguns setores compensaram essa perda de competitividade pelo aumento nos preços do que exportam ou buscando diversificar suas exportações para áreas em que o dólar não seja moeda de referência. Casos raros.
Assim, a indústria queixa-se da invasão dos importados e da perda de competitividade (a não ser para algumas commodities) para continuar exportando.
Será a desvalorização do dólar e a consequente valorização do real a única explicação? Hoje é quase unânime que o chamado custo Brasil está associado a essa perda de competitividade.
Em conclusão, a questão cambial é certamente aspecto crucial em competitividade, mas, como conhecemos as enormes dificuldades em desvalorizar nossa moeda (o que depende de fatores externos, que estão fora de nosso controle), é crucial atacar o custo Brasil, o que está ao nosso alcance.

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA é membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP e um dos fundadores do Ceal e do Cebri.


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