São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2001

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ORIENTE MÉDIO

Retirada do Exército de Belém e Beit Jala foi postergada, após a troca de tiros de ontem

Israel adia a retirada de cidades

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BELÉM

Algumas horas antes de começar a retirada do Exército israelense das áreas palestinas -reocupadas no dia 20 após o assassinato de um ministro-, tanques israelenses voltaram a disparar, ontem de manhã, do centro de Belém contra o campo de refugiados de Asa, localizado na cidade, de onde teria partido fogo contra alvos israelenses.
À noite, o governo informou que a retirada de Israel das seis cidades palestinas foi adiada por 24 horas e que só será retomada se houver calma nos territórios.
A agência de notícias "Reuters", citando um alto oficial do governo israelense, afirma que a saída foi postergada indefinidamente, até que cesse a troca de tiros e que o acordo feito com as forças de segurança palestinas seja implementado. Ontem a Voz de Israel, emissora de rádio oficial, já havia antecipado que a liberação dos territórios havia ficado comprometida pela violência em Belém.
Durante a manhã, o oficial responsável pelo posto de controle da cidade, Oren Shiler, disse não acreditar que a retirada ocorresse até à noite, conforme estava previsto: "Ainda estão atirando contra Jerusalém". Anteontem, o governo israelense anunciou que a retirada do Exército de Belém e de Beit Jala começaria ontem, mas dependeria da calma na região.
Os principais focos de tensão são Beit Jala e Belém. Deles, as milícias palestinas conseguem atirar contra o bairro judeu de Gilo, em Jerusalém, instalado em área ocupada por Israel na guerra de 1967.
Algumas horas depois da reunião ministerial israelense, tiros voltaram a atingir Gilo, mas ninguém ficou ferido. No entanto, os disparos que atingiram o bairro no início da noite de ontem feriram um morador. Ainda de manhã, por volta das 10h30 (6h30 em Brasília), tanques do Exército israelense voltaram à avenida principal de Belém. Os soldados ocuparam novamente o Hotel Paradise, de onde passaram a atirar contra o campo de Asa. Milícias palestinas -que disseram ter registrado quatro feridos- também atiravam contra israelenses.
A violência surpreendeu os moradores, que não esperavam a volta de ataques. Com o centro ainda praticamente desabitado, funcionários da prefeitura começaram ontem a recolher o "lixo da guerra" -ferros retorcidos, restos de portas de metal e de armamentos danificados. Alguns carros particulares e peruas haviam começado a passar pela avenida Mahed, onde fica o Hotel Paradise, mas o pequeno movimento voltou a ser interrompido pelo tiroteio.
Os tiros disparados pelos palestinos contra Gilo na sexta à noite (shabat, dia sagrado para os judeus) e uma tentativa terrorista de invadir a colônia judaica de Dugit, no norte da faixa de Gaza, na madrugada, aumentaram a incerteza israelense sobre a retirada.
Por volta das 3h, na sexta-feira, soldados evitaram que três terroristas do grupo extremista Hamas entrassem em Dugit com bombas, granadas e fuzis. Eles foram mortos a 200 metros das casas.
A retirada imediata das cidades palestinas é um pedido dos EUA, maior aliado de Israel, e vem sendo feita em tom de exigência, para que o conflito não prejudique o apoio de países islâmicos à ofensiva dos EUA contra o terrorismo.
Analistas dizem que Israel deve recuar para suas posições de antes da morte do ministro até o início de novembro, quando o presidente George W. Bush e o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, deverão se encontrar.
Mas a população israelense teme que a retirada traga mais atentados contra civis. "Todos os dias eles [as milícias da faixa de Gaza" querem matar nossos filhos", disse Roni Cohen, morador de Dugit, após a tentativa de invasão.
A Yesha, organização que reúne representantes dos colonos judeus que vivem nos territórios palestinos ocupados de Gaza e Cisjordânia, divulgou anteontem à noite uma nota dizendo que o governo está "abandonando os cidadãos nas mãos de Arafat e seus terroristas". O argumento é reforçado pelo fato de que a reocupação de áreas palestinas reduziu os atentados em Israel.
Segundo o general Amos Malka, chefe da inteligência do Exército, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, sabe que a saída para o conflito é diplomática, mas não tem como deter as milícias nos territórios.
Ao menos 676 palestinos e 177 israelenses morreram desde setembro de 2000.



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