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ORIENTE MÉDIO
Retirada do Exército de Belém e Beit Jala foi postergada, após a troca de tiros de ontem
Israel adia a retirada de cidades
GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BELÉM
Algumas horas antes de começar a retirada do Exército israelense das áreas palestinas -reocupadas no dia 20 após o assassinato de um ministro-, tanques
israelenses voltaram a disparar,
ontem de manhã, do centro de
Belém contra o campo de refugiados de Asa, localizado na cidade,
de onde teria partido fogo contra
alvos israelenses.
À noite, o governo informou
que a retirada de Israel das seis cidades palestinas foi adiada por 24
horas e que só será retomada se
houver calma nos territórios.
A agência de notícias "Reuters",
citando um alto oficial do governo israelense, afirma que a saída
foi postergada indefinidamente,
até que cesse a troca de tiros e que
o acordo feito com as forças de segurança palestinas seja implementado. Ontem a Voz de Israel,
emissora de rádio oficial, já havia
antecipado que a liberação dos
territórios havia ficado comprometida pela violência em Belém.
Durante a manhã, o oficial responsável pelo posto de controle
da cidade, Oren Shiler, disse não
acreditar que a retirada ocorresse
até à noite, conforme estava previsto: "Ainda estão atirando contra Jerusalém". Anteontem, o governo israelense anunciou que a
retirada do Exército de Belém e de
Beit Jala começaria ontem, mas
dependeria da calma na região.
Os principais focos de tensão
são Beit Jala e Belém. Deles, as milícias palestinas conseguem atirar
contra o bairro judeu de Gilo, em
Jerusalém, instalado em área ocupada por Israel na guerra de 1967.
Algumas horas depois da reunião ministerial israelense, tiros
voltaram a atingir Gilo, mas ninguém ficou ferido. No entanto, os
disparos que atingiram o bairro
no início da noite de ontem feriram um morador. Ainda de manhã, por volta das 10h30 (6h30 em
Brasília), tanques do Exército israelense voltaram à avenida principal de Belém. Os soldados ocuparam novamente o Hotel Paradise, de onde passaram a atirar
contra o campo de Asa. Milícias
palestinas -que disseram ter registrado quatro feridos- também atiravam contra israelenses.
A violência surpreendeu os moradores, que não esperavam a volta de ataques. Com o centro ainda
praticamente desabitado, funcionários da prefeitura começaram
ontem a recolher o "lixo da guerra" -ferros retorcidos, restos de
portas de metal e de armamentos
danificados. Alguns carros particulares e peruas haviam começado a passar pela avenida Mahed,
onde fica o Hotel Paradise, mas o
pequeno movimento voltou a ser
interrompido pelo tiroteio.
Os tiros disparados pelos palestinos contra Gilo na sexta à noite
(shabat, dia sagrado para os judeus) e uma tentativa terrorista
de invadir a colônia judaica de
Dugit, no norte da faixa de Gaza,
na madrugada, aumentaram a incerteza israelense sobre a retirada.
Por volta das 3h, na sexta-feira,
soldados evitaram que três terroristas do grupo extremista Hamas
entrassem em Dugit com bombas, granadas e fuzis. Eles foram
mortos a 200 metros das casas.
A retirada imediata das cidades
palestinas é um pedido dos EUA,
maior aliado de Israel, e vem sendo feita em tom de exigência, para
que o conflito não prejudique o
apoio de países islâmicos à ofensiva dos EUA contra o terrorismo.
Analistas dizem que Israel deve
recuar para suas posições de antes
da morte do ministro até o início
de novembro, quando o presidente George W. Bush e o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, deverão se encontrar.
Mas a população israelense teme que a retirada traga mais atentados contra civis. "Todos os dias
eles [as milícias da faixa de Gaza"
querem matar nossos filhos", disse Roni Cohen, morador de Dugit, após a tentativa de invasão.
A Yesha, organização que reúne
representantes dos colonos judeus que vivem nos territórios palestinos ocupados de Gaza e Cisjordânia, divulgou anteontem à
noite uma nota dizendo que o governo está "abandonando os cidadãos nas mãos de Arafat e seus
terroristas". O argumento é reforçado pelo fato de que a reocupação de áreas palestinas reduziu os
atentados em Israel.
Segundo o general Amos Malka, chefe da inteligência do Exército, o presidente da Autoridade
Nacional Palestina, Iasser Arafat,
sabe que a saída para o conflito é
diplomática, mas não tem como
deter as milícias nos territórios.
Ao menos 676 palestinos e 177
israelenses morreram desde setembro de 2000.
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