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No Paquistão, refugiados enfrentam ódio e preconceito
KIYOMORI MORI
FREE-LANCE PARA A REVISTA DA FOLHA,
EM SHAMSHATOO (PAQUISTÃO)
A melhor parte de Shamshatoo,
o maior campo de refugiados afegãos do nordeste do Paquistão,
parece no máximo uma favela
piorada. Casas de pau-a-pique e
mesquitas recém-construídas disputam o pouco espaço.
A pior parte do campo só tem
barracas de lona desordenadas e
bandos de crianças pedindo comida ou qualquer coisa.
O dinheiro é pouco, falta comida, saúde e educação, mas é nessa
área de 45 km2 (pouco mais que
duas vezes o arquipélago de Fernando de Noronha), a 30 km de
Peshawar, que parte dos cerca de
2 milhões de refugiados afegãos
têm a única chance de escapar do
inferno da guerra.
Criado na década de 70 para
abrigar os primeiros refugiados
da invasão soviética, Shamshatoo
tem 21 escolas e cinco postos de
saúde. Ali convivem ONU e Taleban, ONG missionárias e organizações extremistas islâmicas.
As condições de saúde são
ruins, diz o médico e refugiado
Ahmad Karimi, 32, que trabalha
em um dos postos de saúde.
Doenças como cólera, febre tifóide e leishmaniose são comuns.
O cenário não é muito melhor
nas escolas, mantidas pela ONU
"Aqui, quando falta giz, a gente dá
aula escrevendo no chão", afirma
Saeed Mahboab, 45. Cerca de 90%
dos alunos são órfãos de pai.
Cada barraca funciona como
uma sala de aula. Espremidas em
pouco mais de 15 m2, 35 crianças
têm aulas de disciplinas como
matemática e religião.
A temperatura na região chega
facilmente a 50oC no verão. Dentro das barracas vai a 60oC. O professor Javid Sahaak, 42, diz que algumas crianças desmaiam.
A ONU afirma que não tem verba suficiente. "Nosso orçamento
estimado para lidar com o problema dos refugiados nesses primeiros meses é de pelo menos US$ 50
milhões, e temos pouco mais de
30% dessa quantia", afirma Peter
Kessler, 39, porta-voz da organização no Paquistão.
A ajuda oferecida pelo World
Food Programe (Programa Mundial de Alimentação, um órgão da
ONU) a cada refugiado é irrisória:
15 kg de trigo, 1 kg de lentilha e
0,75 litro de óleo por mês.
A falta de recursos gera conflitos
e preconceitos dos paquistaneses
contra os afegãos. Segundo a
ONU, há 203 campos de refugiados no país, que não tem estrutura para isso. Os afegãos são acusados de causar desemprego, e há
um clima de animosidade.
Só no último mês, cerca de 60
mil afegãos cruzaram a fronteira
paquistanesa, engordando o contingente de 2 milhões que fugiram
nos últimos 22 anos, quando começou a invasão soviética, em
1979.
Kessler, que esteve em campos
de refugiados em Ruanda, Congo,
Kosovo e Bósnia, faz um diagnóstico pessimista. "Este é o pior
acampamento em que já trabalhei. Em Ruanda, a miséria era
imensa, mas havia solidariedade,
os vizinhos tentavam ajudar.
Aqui, há ódio."
Vivendo de subempregos nas
grandes cidades, não são poucos
os que partem para a mendicância ou para atividades ilícitas, como o contrabando e o tráfico de
drogas.
A ONU calcula que, se o conflito
com os EUA e aliados se prolongar por mais de um ano, mais 1
milhão de pessoas devem fugir
para o Paquistão.
Leia a reportagem completa no site
www.uol.com.br/revista
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