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Cocaleiros querem bloquear estradas
DA REDAÇÃO
Insatisfeitos com o andamento
da mesa de diálogo com o governo, os cocaleiros bolivianos prometem paralisar as principais estradas do país a partir do dia 6, em
protesto contra a política de erradicação dos cultivos ilegais de coca. Os cocaleiros exigem a suspensão do trabalho de erradicação
enquanto uma comissão independente avaliaria o potencial de
mercado legal para a coca no país.
O governo diz que não pode interromper a erradicação, sob pena
de ver os cultivos ilegais crescerem exponencialmente.
"Os cocaleiros não têm como
garantir que, se nós pararmos a
erradicação, eles também não farão novas plantações", diz o vice-ministro da Defesa Social, Ernesto
Justiniano Urenda. "O que existe
hoje é um equilíbrio dinâmico,
com esforços de erradicação por
parte do governo e para plantar
por parte dos cocaleiros", afirma.
Justiniano convocou uma reunião de negociações para o dia 4
de janeiro, para tentar evitar os
protestos do dia 6.
O principal ponto da discussão
entre o governo e os cocaleiros é a
quantidade de coca consumida de
maneira legal no país. Os cocaleiros dizem que o potencial de consumo permitiria um aumento no
limite legal para plantações, de 12
mil hectares, fixado em 1988.
O governo, por sua vez, diz que
esse limite poderia ser até mesmo
reduzido após a conclusão do estudo de mercado. "Acreditamos
que o consumo tenha caído, mas
não queremos defender posições
políticas", diz Justiniano. "O importante é que os resultados do
estudo sejam aceitos como definitivos pelo governo e pelos cocaleiros", afirma.
Para Oscar Coca, assessor do
deputado Evo Morales e um dos
negociadores dos cocaleiros na
mesa de diálogo, o limite fixado
em 1988 foi subestimado. Segundo ele, o consumo atual permitiria a manutenção do atual volume
de plantações, legais e ilegais.
Segundo Coca, seria possível até
aumentar a produção se alguns
países levantassem a restrição à
importação das folhas. Ele cita o
caso do norte da Argentina, onde
a coca chega de maneira ilegal,
mas tem o consumo tolerado.
O governo dos EUA, principal
incentivador do Plano Dignidade,
de erradicação dos cultivos ilegais
na Bolívia, reconhece a existência
de um mercado legal para a coca,
mas defende o combate à produção excedente, que teria como
destino a produção de cocaína.
Fontes da embaixada americana em La Paz consultadas pela Folha não quiseram fazer comentários sobre as negociações entre os
cocaleiros e o governo boliviano,
alegando que esse é um assunto
interno da Bolívia.
(RW)
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