São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002


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Abrir negócio na praia ou no campo para trabalhar menos não dá certo, alertam consultores

Sem planejar, desejo vira pesadelo

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ponderar as vantagens e desvantagens de cada opção de negócio é passo obrigatório para quem quer abrir uma empresa. Sem um plano de negócios cuidadoso, a tão sonhada pousada na praia pode fechar em seis meses -isso se chegar a deixar de ser um sonho.
"A idéia de criar uma empresa para descansar não é realizável. Tudo dá trabalho", avisa o professor da FGV-Eaesp Tales Andreassi. Ele lembra que a principal armadilha para quem quer realizar o sonho de empreender para viver melhor é "o próprio sonho".
"As dificuldades na "nova vida" tendem a aumentar: na praia, há sazonalidade; no interior, consumidores resistentes a novidades."
Enquanto as vantagens de um negócio longe dos centros urbanos são bem conhecidas (menos tráfego e poluição, mais verde e segurança), as desvantagens acabam sendo negligenciadas.
A perda de status é uma delas. "Quem trabalhava como executivo e tinha uma sala grande tende a fazer uma decoração de luxo só para mostrar aos parentes e amigos que fez a escolha certa, enquanto deveria racionalizar os gastos", diz Enio Pinto, do Sebrae.

À beira-mar
Na área de hotelaria -um dos xodós dos que querem "desestressar"- há especificidades que merecem atenção redobrada.
"As pessoas vêem a atividade com olhos de turista, e não de empresário. Não sabem que dá trabalho 24 horas", alerta Sônia Miranda, da associação de dirigentes de escolas de turismo e hotelaria.
O estudante Mário Negrette Júnior, 22, que está construindo uma pousada em Ilhabela (litoral norte de SP) acrescenta outro obstáculo para consumar a empreitada. "Em áreas de preservação ambiental há alguma dificuldade para conseguir toda a documentação legal", diz. "Mas é o meu sonho e não arredo o pé", completa ele, que tem parentes morando na região litorânea.
O consultor e professor de hotelaria Antoine Marioli, é otimista. Segundo ele, quem faz a "lição de casa" tem grandes chances de sucesso ao abrir uma pousada. "É difícil não dar certo, basta ter algum tipo de atrativo, saber cativar quem mora por perto e não focar só nos turistas estrangeiros."
A "lição de casa", nesse caso, compreende convênios com agências de viagem, segmentação do público-alvo e, principalmente, um planejamento financeiro austero -pois o retorno do investimento pode levar até seis anos. "É de longo prazo, mas é seguro", conclui Marioli.
Talmir Duarte da Silva, 50, dono de pousada em Florianópolis e diretor da seção de pousadas e pequenos hotéis da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), tem boas notícias: o mercado não está saturado. "Sempre há lugar para quem quer fazer bem feito, para quem não se precipita." A entidade não tem dados sobre o número de pousadas no país.
Segundo ele, uma pousada pequena, de até dez quartos, é algo "tranquilo de gerenciar".



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