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Música eletrônica vale ouro

Por MICHAEL SCHULMAN

Debruçado sobre um dois toca-discos digitais, Kaskade desencadeou uma saraivada de batidas, e a multidão reagiu obediente, pulando em uníssono como os braços para o alto. Kaskade levou seu público ao frenesi. Foi uma de duas noites de lotação esgotada em Nova York que anunciaram o sétimo álbum gravado em estúdio do DJ, "Fire & Ice", que estreou já como n° 4 na parada de álbuns americana.

Eleito o melhor disc-jóquei dos Estados Unidos em 2011 pela "DJ Times" e a Pioneer DJ, Kaskade navega uma nova onda de artistas de música eletrônica.

Não é de hoje que a música eletrônica atrai multidões na Europa, mas apenas recentemente a "electronic dance music", ou EDM, como seus fãs a chamam, vem ganhando adeptos na América do Norte. Cerca de 230 mil pessoas lotaram o Electric Daisy Carnival deste ano, um enorme festival de música eletrônica. No verão deste ano, Kaskade foi a atração principal do primeiro IDentity Festival, que percorreu 20 cidades, fazendo shows em anfiteatros para milhares.

Numa demonstração do alcance de sua música, DJs como Kaskade hoje podem ganhar US$200 mil ou mais por uma única noite. "No final dos anos 1990 e início da década de 2000, a EDM viveu uma explosão inicial que durou um segundo", disse Joel Zimmerman, que em 2008 criou a divisão de música eletrônica da William Morris Endeavor e que trabalha com Kaskade. "O que realmente fez a coisa ganhar ímpeto foram as mídias sociais, que levaram os jovens a se conectar de maneiras diferentes."

Kaskade, cujo nome real é Ryan Raddon, se recorda do momento quando percebeu que seu gênero não era mais um fenômeno underground. Era 2009, e ele estava tocando no palco principal do Electric Daisy Carnival, no Memorial Coliseum de Los Angeles. "Olhei para aquele mar de pessoas -o campo de futebol estava cheio", contou o DJ. "Eu entendi que era o começo de alguma coisa grande. Hoje não existe grupo musical que consiga fazer isso -nem o U2 ou o Coldplay. Ninguém consegue atrair tanta gente assim para uma arena."

Raddon, 40 anos, já trabalha há tempo suficiente para ter testemunhado a transformação em primeira mão. "Eu já vi a coisa descrever dois ou três ciclos", disse ele, lembrando a época áurea de meados dos anos 1990. Ele atribui o revival ao fato de as pessoas estarem cansadas de hip-hop e à ascensão de Lady Gaga.

Mas ele ainda se acostuma ao salto entre os ambientes com 300 pessoas e as festas com 3.000 pessoas no Marquee, em Las Vegas, onde é o DJ residente.

"Fire" é composto de dez faixas de dance em ritmo acelerado. Em "Ice", ele remixa as mesmas faixas, agora como música mais calma, para desaquecer.

Apesar de sua imersão no cenário dos clubes, que vem de décadas, Raddon, pai de três filhos pequenos, mórmon devoto e ex-missionário, disse que nunca tomou um drinque na vida, muito menos consumiu drogas.

Não era esse o caso de sua plateia, muitos de cujos integrantes estavam curtindo uma euforia não exatamente natural. Raddon não viu esse fato como contradição. "Não estou promovendo drogas nem nada", disse ele. "A cultura dos clubes significa deixar suas preocupações para trás, e eu procuro criar esse ambiente. Honestamente, não acho que seja preciso usar drogas para curtir."

Kaskade diz que, com o avanço da tecnologia, a EDM é sofisticada o bastante para que não se precise de substâncias químicas.

"Acho que isso faz parte da popularização do gênero", disse ele. "Dez anos atrás, tentamos tirar os brownies antes da hora. A música já assou o suficiente. Agora ela já está pronta."

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