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New York Times

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México confronta cultura da corrupção

Transparência ainda não resultou em vitórias judiciais

Por KARLA ZABLUDOVSKY

CIDADE DO MÉXICO - Andrés Granier vangloriava-se de que seus 400 pares de sapatos, 300 ternos e mil camisas mal cabiam em seus diversos imóveis, espalhados pelo México e pelo exterior. Mas o seu posto, até dezembro, era o de governador de um Estado de porte médio no sudeste do México, com salário anual de US$ 92 mil deduzidos os impostos.

"Vamos à Quinta Avenida e compro um par de sapatos: US$ 600", ouve-se Granier dizer em uma fita que vazou para uma estação de rádio local em maio. "Levei roupas para Miami. Levei roupas para Cancún. Levei roupas para casa. Ainda há roupas sobrando."

Um dia depois que a gravação foi divulgada, ele disse que estava embriagado no dia em que fez essas declarações, em outubro.

Tão revelador quanto as extravagâncias de um funcionário público -agora sob investigação depois que seu sucessor descobriu que US$ 190 milhões desapareceram dos cofres públicos estaduais- é o fato de que essas faltas tenham vindo à tona, em um país no qual a corrupção tem raízes profundas e raramente é exposta.

Hoje, os grupos de fiscalização estão ganhando força, os partidos de oposição estão contestando e expondo as falhas do status quo e as organizações noticiosas, tanto as tradicionais quanto as mídias sociais, procuram responsabilizar as autoridades corrompidas.

Uma década atrás, as autoridades mexicanas tendiam a se proteger mutuamente. Durante os 71 anos de governo do Partido Revolucionário Institucional (PRI), era esperado que os governadores saqueassem os cofres estaduais.

Quando o PRI saiu derrotado na eleição presidencial de 2000, deixou um vácuo político. Os governadores adquiriram autonomia sem precedentes e quase não havia fiscalização sobre eles, disse Alfonso Zárate, presidente de uma consultoria política mexicana.

A dívida dos Estados mexicanos subiu para US$ 30 bilhões em 2012, ante US$ 15 bilhões em 2008. Considerada a inflação, a alta foi de 70,4%, de acordo com Marco Cancino, analista político. Os governos estaduais pouco reportam sobre a forma pela qual esse dinheiro vem sendo gasto.

Mas as leis de liberdade de informação, as recentes reformas legislativas exigindo prestações de contas mais rigorosas e a sociedade cada vez mais familiarizada com a tecnologia impediram que essas manobras financeiras nebulosas passassem sem contestação.

As histórias sobre governadores caídos em desgraça são parte do que Zárate define como "democracia incipiente".

No ano passado, Mario Ernesto Villanueva Madrid, ex-governador do Estado de Quintana Roo, extraditado aos EUA em 2010, admitiu ser culpado por conspirar para a lavagem de milhões de dólares em subornos que recebeu do poderoso cartel de drogas de Juárez. Mas a cultura e mentalidade do "el que no tranza, não avanza", ou "quem não trapaceia, bobeia", continua inalterada.

Os pequenos avanços na transparência não se traduziram em vitórias da Justiça, dizem especialistas. Governadores agora são investigados, mas raramente se tornam alvo de acusações. "Sabemos o que está acontecendo", diz Sergio Aguayo, analista político do Colegio de Mexico. "Mas nenhuma medida está sendo tomada."

Em 2011, a Promotoria Federal mexicana iniciou uma investigação sobre US$ 3 bilhões em dívidas do Estado do Coahuilla, contraídas principalmente durante a gestão de Humberto Moreira, ex-presidente do PRI, partido que reconquistou a Presidência em dezembro. Mas, em abril, o jornal "Reforma", da Cidade do México, reportou que Moreira estava morando com a família em um bairro elegante de Barcelona, na Espanha, e estudando em uma universidade local.

Os mexicanos ativos no Twitter discutem esses escândalos por dias e semanas a fio, envergonhando os políticos e pressionando a mídia noticiosa a cobrir os casos. Mas os analistas argumentam que ainda não existem mecanismos efetivos para traduzir a participação dos cidadãos em mudanças estruturais.

Cancinco pergunta: "O que devemos fazer para que a sociedade avance da indignação à ação?"


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