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New York Times

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Corrupção no governo chinês cria brecha para chantagistas

Por DAN LEVIN e AMY QIN

SHUANGFENG, China - A fotografia geralmente chega anexada a um e-mail ou à moda antiga, em um envelope sem endereço do remetente. Raramente é uma imagem bonita.

Muitas vezes, a foto mostra um burocrata de meia-idade com uma mulher que não é a sua esposa. Ou também pode mostrá-lo totalmente vestido, mas usando um relógio caro que seu salário no governo jamais poderia pagar. Então vem a exigência: pague ou vire o próximo viral da internet.

Muitas autoridades chinesas encontram-se envolvidas em esquemas de extorsão que aproveitam a crescente repulsa pública por comportamentos inadequados. Nem mesmo os que resistem aos desvios ficam imunes. Com a ajuda de softwares de tratamento de imagem, chantagistas copiam e colam fotografias de suas presas em fotos comprometedoras.

O aumento da extorsão ocorre em um momento em que muitos membros do Partido Comunista sofrem uma campanha de austeridade do governo, promovida pelo próprio presidente Xi Jinping, que lhes negou os banquetes e carros com motorista antes considerados direitos de nascença da oficialidade chinesa.

Mais de 2.000 autoridades foram punidas por violações desde o lançamento da campanha em 2012 até abril passado, segundo a principal agência anticorrupção da China.

Hoje, além de tomar cuidado com os inspetores antissuborno, os funcionários públicos devem enfrentar chantagistas armados com câmeras de vídeo ou pior: o Photoshop.

Aqui em Shuangfeng, município rural na província de Hunan, as autoridades detiveram dezenas de chantagistas, alguns dos quais usaram transgressões reais das autoridades para exigir pagamentos e outros que simplesmente usaram a manipulação de imagens para fazer chantagens.

O vice-diretor de um departamento na província central de Shaanxi, que pediu para não ser identificado para evitar escrutínio, disse que os envolvidos na indústria sombria da fotografia forjada vão desde os ousados sindicatos do crime em busca de dinheiro fácil até indivíduos que querem obter contratos empresariais vantajosos. Mas as autoridades famintas de poder que extraem ganhos políticos de seus camaradas também são "bastante comuns".

"A coisa mais assustadora é que, se você for acusado, o governo não pode dizer nada", disse a autoridade. "Ninguém realmente se importa se é verdade ou mentira."

O jornal "Zhengzhou Daily" relatou, em maio, que a polícia da província de Hebei descobriu um círculo criminoso de 80 falsos jornalistas que ganharam 1,1 milhão de renminbi, ou cerca de US$ 180 mil, nos últimos cinco anos ameaçando publicar notícias negativas sobre autoridades e empresas.

Em abril, três ex-autoridades da província de Hunan, no centro da China, foram indiciadas depois de serem apanhadas colocando um dispositivo de escuta e uma câmera escondidos em um bebedouro no escritório do chefe do partido local, Hu Jiawu.

Os promotores disseram que os três gravaram Hu "violando a disciplina do partido" -geralmente um eufemismo para o suborno- e então ameaçaram denunciá-lo se não fossem promovidos.

O governo de Shuangfeng passou à ofensiva contra os chantagistas. Em março, as autoridades locais começaram a publicar cartazes e faixas que diziam: "Toda a sociedade deve agir! Vamos começar uma guerra maciça do povo contra crimes de chantagem que usam imagens obscenas forjadas no Photoshop".

A polícia de Shuangfeng diz que prendeu 37 pessoas ligadas a 127 casos de extorsão em que pretendiam obter US$ 7,3 milhões.

Poucos acham que a repressão erradicará completamente uma indústria que, dizem, pagou por muitas das grandes casas recém-construídas que salpicam a região. "É chamada de 'guerra do povo', mas por que pessoas comuns ajudariam o governo?", disse um lojista, que calculou que cerca da metade dos moradores da aldeia estava envolvida em esquemas de fraude e extorsão.

"As autoridades são conhecidas por serem obcecadas por alta gastronomia, sexo e dinheiro", acrescentou ele. "É uma indústria muito lucrativa."

Segundo o jornalista Zhu Ruifeng, a proliferação da mídia social forneceu aos ativistas anticorrupção (e suas contrapartidas empresariais mais sombrias) o fórum ideal para expor os erros morais de funcionários públicos.

Uma autoridade de nível médio em Xi'an confiou recentemente à reportagem que foi chantageado por uma foto em que aparece usando um relógio de luxo (que ele realmente possui, mas raramente exibe em público).

Nervosa, a autoridade foi conversar com um colega confiável, que reagiu chocado com o fato de que aquele era seu primeiro contato com o mundo da chantagem.

"Você só recebeu uma carta de extorsão até agora?", perguntou o colega.


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