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New York Times

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Inteligência/Amy Yee

Trabalhando para o futuro do Tibete, na Índia

Dharamsala, Índia

Em uma sala de aula, 20 jovens tibetanos de ambos os sexos sentam diante de computadores enquanto as fortes chuvas de verão caem lá fora. Uma mulher lhes ensina em tibetano a usar o Microsoft Word e o Gmail, enquanto outros estudantes praticam digitação seguindo um gráfico de teclado na tela. Eles participam de um curso grátis de informática em um Centro Profissional Tibetano, aberto no ano passado em uma movimentada estrada na montanha em Dharamsala, o lar no exílio do dalai-lama e de outros 12 mil tibetanos.

O centro prepara jovens tibetanos para empregos por meio de aconselhamento profissional, entrevistas e oficinas de redação de currículos, além de conectá-los a potenciais empregadores. O programa é dirigido pelo governo tibetano no exílio, sediado em Dharamsala, para promover a habilitação ao trabalho e o empreendedorismo entre tibetanos a partir de 16 anos. Jigmey Tsultrim, consultor-chefe do centro, disse: "Alguns tibetanos não percebem que eles têm essas qualidades ocultas. Estamos tentando adequá-los às oportunidades".

O programa é importante, considerando que até 22% dos jovens tibetanos exilados na Índia e no Nepal estão desempregados, segundo uma pesquisa feita em 2009 pela Technoserve, instituição sem fins lucrativos sediada nos EUA que assessora o projeto, financiado pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). O índice de desemprego entre os jovens adultos indianos é de apenas 10%.

Esse trabalho importante, mas pouco conhecido, é obscurecido pelo fluxo de notícias mortais sobre o Tibete. Desde 2009, pelo menos 120 tibetanos morreram em autoimolações, em protesto contra a repressão à liberdade religiosa e aos direitos humanos praticada pelos chineses.

A China iniciou a repressão na região em 2008, depois de violentos protestos antes do 50° aniversário da invasão chinesa em 1959. Apenas no mês passado, dois tibetanos teriam sido mortos a tiros e pelo menos outros oito ficaram seriamente feridos em Tawu, área tibetana de Sichuan, no sudoeste da China, quando a polícia disparou contra um grupo desarmado em um piquenique no 78° aniversário do dalai-lama.

A série de suicídios inclui mais de 70 autoimolações no último ano. Em 20 de julho, um monge de 18 anos, Kunchok Sonam, se incendiou no leste do Tibete. Sua morte seguiu-se à autoimolação de uma monja tibetana de cerca de 30 anos em 11 de junho em Tawu.

Serviços memoriais em Dharamsala, como o feito para Kunchok Sonam, são um triste lembrete da força mortífera da China no Tibete. Faixas e cartazes com os rostos dos que se incendiaram salpicam as ruas íngremes dessa cidade no sopé do Himalaia. O pequeno Museu do Tibete em Dharamsala montou uma exposição especial sobre as imolações. Um painel mostra retratos de tibetanos que morreram incendiados: jovens e velhos, monges e leigos, nômades e moradores urbanos.

Programas como o do Centro Profissional Tibetano não solucionam os problemas sociais dos exilados. Mas ajudam a lembrar que os 120 mil refugiados na Índia e no Nepal podem moldar seus futuros e criar nova esperança para os que estão no Tibete.

Com uma pequena população de cerca de 6 milhões no Tibete, seu futuro depende de animar sua juventude.

O Karmapa, diretor altamente respeitado de uma escola de budismo tibetano que vive exilado na Índia, disse sobre as autoimolações em 2011: "A maioria dos que morreram era muito jovem. Eles tinham um longo futuro pela frente, uma oportunidade de contribuir de maneiras que hoje se perderam", disse ele, acrescentando: "Cada vida tibetana tem valor para a causa do Tibete".

Ou, como notou Tsering Choedon, um jovem brilhante de 27 anos, formado em direito e advogado no centro de Dharamsala: "Para que um país seja forte, precisamos ter uma juventude forte e independente. Se estivermos desempregados e sem fazer nada, não sei que futuro terá nosso país".

Embora os tibetanos possam se matricular em escolas gratuitas tibetanas em toda a Índia, muitos se formam sem capacidade profissional prática. Outros não têm confiança e motivação para persistir na busca de empregos na Índia, onde a concorrência é intensa. Em Dharamsala, jovens muitas vezes passam o dia todo jogando cartas e outros jogos. Muitos jovens adultos tibetanos vivem às custas dos pais ou de remessas de parentes no exterior.

Até agora, 470 tibetanos foram treinados em sete centros profissionais em toda a Índia e em Katmandu, no Nepal. Mais de 200 foram colocados em empregos em centros de atendimento, salões de beleza, hotéis e restaurantes.

Rinzin Lhamo é formado em técnicas de comunicação em Bangalore. "Sou outra pessoa em comparação a antes do treinamento", disse. "Agradeço ao treinador por suas aulas, que me ajudaram a superar meu nervosismo."

Ajudar um jovem tibetano a ser independente pode parecer pouca coisa diante da crise no Tibete, mas tem um significado maior. Como disse Tsultrim em Dharamsala, "a juventude pode ter o grande papel de manter nossa cultura e nossa identidade".


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