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TENDÊNCIAS/DEBATES
O InCor e a Fundação Zerbini
MARCOS BOULOS, GIOVANNI GUIDO CERRI e JOSÉ MANOEL DE CAMARGO TEIXEIRA
Com a tutela da Faculdade de Medicina, a Fundação Zerbini já está voltando o foco para o seu objetivo inicial: apoiar o InCor
A FACULDADE de Medicina da
USP tem em sua origem um
novo projeto de ensino médico
para o país, com a criação de hospitais
universitários, subordinados às instituições de ensino. Anteriormente, as
aulas práticas dos cursos de medicina
do país eram ministradas nas santas
casas e em hospitais não vinculados à
academia. Essa foi a origem do Complexo Hospital das Clínicas, que hoje
reúne seis institutos especializados
(em breve, serão sete, com o Instituto
Doutor Arnaldo), dois hospitais auxiliares, dois hospitais gerais e um centro de medicina de reabilitação.
Tal modelo de excelência e atendimento de qualidade é resultado do
vínculo com a universidade e da utilização do conjunto de conhecimento
produzido pela pesquisa e ensino universitários. E é também reflexo direto
do modelo de gestão desenvolvido pela instituição, em que problemas crônicos da administração de instituições públicas foram enfrentados.
A criação da Fundação Zerbini, em
1978, foi um dos instrumentos desenvolvidos pela Faculdade de Medicina
para oferecer à população atendimento de qualidade em cardiologia.
Seu modelo previa, por meio da gestão eficiente dos recursos do Estado e
da captação de recursos privados, melhorar o atendimento oferecido, retendo os melhores profissionais e fixando-os em período integral. Não se
trata, porém, de uma entidade mantenedora, com recursos próprios, e
sim de uma instituição de apoio que
deve administrar os recursos com base no que é decidido pelo órgão apoiado, no caso o InCor (Instituto do Coração), um dos seis institutos especializados do Complexo HC.
Criada inicialmente como Fundeb
(Fundação para o Desenvolvimento
da Bioengenharia), ela passou a atuar
também na parte clínica e teve seu
nome mudado para Fundação Zerbini em 1982. Com a mudança, passou a
responder pelo suporte a todo o instituto, atuando no pagamento complementar a funcionários, contratação
de pessoal, compra de material importado e apoio à pesquisa. Sua excelente performance e os altos resultados obtidos fez com que servisse de
modelo para outras fundações, como
a Fundação Faculdade de Medicina,
criada em 1986 para apoiar as atividades dos demais órgãos do complexo.
No entanto, no início dos anos
2000, ao mesmo tempo em que o InCor ampliava suas atividades, a Fundação Zerbini começou a mudar sua
filosofia de atuação, afastando-se do
objetivo de ser um órgão de apoio para o hospital para buscar atividades
próprias, desvinculadas de seu propósito inicial.
Essa ampliação da atuação, em vários casos, se deu sem a devida avaliação do impacto financeiro e dos resultados a serem obtidos, envolvendo a
fundação em projetos que nada tinham a ver com o funcionamento
adequado do InCor e com o atendimento de alta qualidade oferecido à
população.
Foi a mudança de filosofia associada à gestão temerária exercida na fundação que levou o conselho deliberativo do HC a intervir diretamente em
seu funcionamento em 2005. A diretoria e o conselho curador foram alterados no ano passado e a fundação começou a voltar a ter como seu objetivo central apoiar as atividades do InCor. No entanto, ainda será necessário algum tempo para que os resultados dessas ações sejam sentidos.
Apesar da pronta ação da Faculdade de Medicina e do conselho deliberativo do HC, a Fundação Zerbini ainda se encontra em situação delicada.
É importante ressaltar que essa situação é da fundação, e não do InCor, que
continua tendo suas atividades mantidas integralmente. O instituto, assim como os demais do Complexo
HC, tem seu financiamento no governo do Estado e no atendimento ao
SUS, convênios e particulares.
No entanto, a história da Zerbini e
seu simbolismo para o sistema de
saúde brasileiro fazem com que a Faculdade de Medicina empreenda
exaustivas ações para devolver-lhe
sua posição original. Assim, inúmeros
esforços têm sido engendrados a fim
de buscar as melhores saídas para a
instituição.
O empenho dos governos estadual
e federal tem sido fundamental neste
momento e certamente será através
dessas parcerias que as soluções serão desenhadas. Temos certeza que
em breve a situação estará equacionada graças a esse empenho geral. Qualquer solução que seja a escolhida será
resultado do consenso entre as várias
esferas governamentais com base no
mais verdadeiro interesse público.
Com a tutela da Faculdade de Medicina da USP, a Fundação Zerbini já
está voltando o seu foco para seu objetivo inicial: o apoio ao InCor. Com a
filosofia adequada e gestão competente, voltará a ser um importante
instrumento de apoio ao funcionamento de nosso complexo.
MARCOS BOULOS, 61, é diretor da Faculdade de Medicina da USP e presidente do Conselho Deliberativo do Hospital das Clínicas (HC), GIOVANNI GUIDO CERRI, 53, é
chefe do Departamento de Radiologia e ex-diretor da Faculdade de Medicina da USP, e JOSÉ MANOEL DE CAMARGO TEIXEIRA, 58, é superintendente do Hospital das Clínicas.
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