São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Ajude a nação estudando muito

O novo ministro da Educação herdou uma situação educacional muito melhor do que a recebida pelo ex-ministro Paulo Renato Sousa, mas muito aquém daquilo de que o Brasil precisa.
O ex-ministro trabalhou oito anos na mesma pasta. Essa estabilidade foi um ganho. Os avanços foram inegáveis. As estatísticas educacionais melhoraram, o que permitiu um controle mais rígido do sistema de ensino. Houve uma grande redução da intermediação, o que facilitou a chegada das verbas públicas às escolas. O número de matrículas aumentou em todos os níveis, destacando-se o fato de 97% das crianças entre 7 e 14 anos estarem na escola.
Apesar de tudo isso, a caminhada a ser percorrida é enorme. Segundo pesquisas divulgadas pelo Ministério da Educação no final de 2002, a qualidade da educação brasileira é ainda muito baixa, e a aprendizagem dos alunos é limitadíssima.
Continua grande a parcela de alunos que, mesmo estando na 4ª série, não consegue resolver operações de soma e de subtração com até três algarismos -um escândalo! No mesmo caso estão os que não conseguem interpretar textos elementares. Quando solicitados a ler uma página de revista, os alunos entendem apenas as mensagens explícitas dos textos publicitários, mas não compreendem o significado da matéria publicada naquela página nem, muito menos, uma peça de literatura. É um quadro triste, pois o mundo moderno exige muito mais do que isso para que as pessoas possam trabalhar e viver.
Vários fatores interferem na aprendizagem: as condições da família do aluno, a educação dos pais, o equipamento da escola e a qualidade dos professores, entre outros.
No que tange à situação familiar, apesar de 97% das crianças estarem na escola, entre as que pertencem a famílias em que a renda per capita é de até meio salário mínimo o atraso escolar (a defasagem entre idade e série) é muito maior do que entre as demais. Por exemplo: entre as que têm 14 anos e pertencem ao primeiro grupo, 85% estão atrasadas. Entre as que estão no segundo grupo, 30% estão defasadas -o que já é muito.
O que pesa mais nesse quadro? A mesma pesquisa indica que a situação socioeconômica e educacional da família pesa cerca de 70%, e a das escolas, 30%. Nos Estados Unidos e no Canadá, o peso desses fatores é de apenas 6% -o restante (94%) depende da escola. Naqueles países, a situação da família é propícia à aprendizagem. Uma grande parte dessa aprendizagem se dá pela ação continuada de pais educados, que acompanham a vida dos filhos na escola e ajudam a desenvolver neles o importante hábito da leitura.
No Brasil, a busca da boa educação exige uma ação com as famílias e as escolas. Educar é uma arte demorada. Continuidade e seriedade são fundamentais. Os programas Bolsa-Escola (para ajudar as famílias) e Comunidade Solidária (para alfabetizar os adultos) precisam continuar e até serem ampliados para que se possa acabar o que foi tão bem começado.
Ajudar o Brasil estudando muito é a melhor maneira de nos tornarmos uma nação grande e respeitada.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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