São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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MÁRIO MAGALHÃES

Lula, Gil e a marola

RIO DE JANEIRO - Se marola em copo d'água projeta o que será o mar revolto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode vir a ser um timoneiro de certa aptidão em horas de tempestade. Ele driblou com sucesso um iceberg que o ameaçou antes da posse.
Ao anunciar Gilberto Gil como futuro ministro da Cultura, Lula sabia que irritaria um dos mais articulados lobbies que o apoiou: o da auto-intitulada ""classe artística" (sic).
Pediu ao baiano que tentasse compor com os preteridos. Previa que a ira seria ainda maior por Gil, além de frustrar a gula de quem já falava em convescotes como neoburocrata, não ser do PT, mas do PV.
Começaram bem as conversas. Gil daria a secretaria-executiva para o PT e haveria paridade. Cada lado ficaria com metade dos cargos. Juntos, defenderiam que as diretorias de marketing das estatais, mecenas maiores da cultura, fossem nomeadas em acordo com as empresas.
As negociações degringolaram na sexta retrasada. Os petistas passaram a querer tudo o que de fato contava. Com um argumento: Gil tinha o fundamental, seria ministro. O baiano resistiu. Ouviu que os interlocutores falavam em nome de Lula. Interrompeu o encontro e foi para a reunião ministerial do governo eleito.
No café da manhã da segunda, Lula disse a Gil que ele, como ministro, tinha sinal verde para escolher quem bem entendesse. Se conseguisse contemplar os petistas, tanto melhor.
E o que dizer, indagou o compositor, na reunião que teria em seguida com a turma do PT? Lula perguntou se ele já sabia que postos os insatisfeitos queriam. Resposta positiva, orientou: então não vá. Com o aval de Lula, Gil deixou os partidários do presidente esperando. Depois, deu os principais cargos para o PV, acomodou os petistas e esfriou a crise.
Pode tanto vir a ser um bom como um mau ministro. Já serviu para Lula ensaiar suas manobras no timão para quando ondinha virar temporal - tipo Furlan (Desenvolvimento) versus Lessa (provável BNDES).



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