São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula, Chávez e Fidel

BRASÍLIA - A política externa do governo Lula não começou com seu giro internacional e a passagem pela Casa Branca. Começou na posse, com dois movimentos singulares: George W. Bush mandou Zoelick, o "sub do sub do sub", enquanto Lula abriu seu primeiro dia de trabalho com Hugo Chávez e fechou com Fidel Castro.
Aliás, o assessor internacional de Lula e do PT, Marco Aurélio Garcia, só fez duas viagens depois da eleição: uma à Venezuela, outra a Cuba.
Não é preciso ser um gênio para perceber que os EUA tripudiaram na posse de Lula e que Lula dá sinais inequívocos de que seus principais interlocutores -e referências- serão Fidel, o ditador, e Chávez, que rachou a Venezuela ao meio e está cai-não-cai. Ambos de esquerda.
Em comum, os três presidentes têm a ousadia de tentar um modelo alternativo ao pensamento único ou Consenso de Washington. E ainda a radicalização do discurso social e de defesa da soberania do continente.
As diferenças, porém, são profundas. O projeto Chávez (ao contrário do que se pensa) é consistente e viável. O problema é o messianismo de Chávez, que imaginou governar em confronto com a igreja, a academia, a imprensa, a classe média, o empresariado e parte do sindicalismo. Em Lula, o principal traço é justamente o diálogo, a conciliação.
Quanto a Fidel, boas intenções também não faltam. Faltam, sim, atualização, modernidade, equipe, perspectiva e inserção, entre outros fatores fundamentais.
O que Lula tenta é identificar-se com a imagem de esquerda dos dois personagens internacionais mais prestigiados na posse brasileira, mas dando um salto de 40 anos à frente do atual Fidel e depurando o projeto de país comandado por Chávez dos erros políticos do mesmo Chávez.
Dúvidas e mais dúvidas. Essa mágica é realmente possível? Onde encaixar Bush e o "sub do sub do sub" nesse contexto? E a mais fundamental: se alguma coisa der errado, os opositores vão poder resgatar aquela história do "círculo do mal"?



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