São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Além dos caças e da fome

SÃO PAULO - A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de investir no combate à fome o dinheiro que seria empregado na compra de caças pela Força Aérea Brasileira deveria servir de motivo para uma discussão bem mais aprofundada sobre os custos e o papel das Forças Armadas em países como o Brasil.
Que elas estão desequipadas ninguém discute. Mas como devem ser equipadas? Comprar novos caças é inútil se se pretende utilizá-los para defender o Brasil de um eventual ataque de qualquer país rico. Não será com mais 12, 24 ou mesmo cem novos caças que o Brasil irá deter uma hipotética ofensiva de países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
A guerra hoje depende de equipamentos muitíssimo mais sofisticados, de custo absolutamente inatingível para países como o Brasil.
Se os caças servem para uma também hipotética guerra com os vizinhos, aí já se entra no território da insanidade. Imaginar que a Argentina, o Paraguai, o Peru ou a Venezuela possam entrar em guerra contra o Brasil é tão insano que melhor seria deixar as Forças Armadas de todos esses países até sem mosquetões.
Aliás, está na hora de pensar em uma defesa sul-americana conjunta para ganhar escala.
Combater a "subversão", papel que regras não escritas reservaram aos militares no século passado, está igualmente fora de moda, até porque os "subversivos" acabam de se instalar no poder.
Nas circunstâncias políticas, econômicas, geopolíticas e sociais de hoje, manter quartéis amplos e bem dotados de pessoal no centro de cidades como São Paulo parece um caro anacronismo, ainda mais quando há certo consenso de que as fronteiras brasileiras são porosas demais.
Trocar caças pelo combate à fome parece fazer sentido, mas não esgota o assunto.
PS - Dou folga de uma semana ao leitor. É também para que o governo Lula resolva os problemas da pátria. Na volta, acaba a lua-de-mel.



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