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CLÓVIS ROSSI
Não é inimputável
SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comporta-se como
se fosse inimputável. Não é. Sua história de vida, sua origem pobre, a
educação que diz ter recebido dos
pais, o cargo que ocupa -nada disso
o faz melhor do que qualquer outro
cidadão brasileiro.
Por isso, teria que dar o exemplo
quando fala de pedir desculpas a
quem é injustamente acusado. Lula,
para ficar só no mais folclórico dos
exemplos, disse que havia "300 picaretas" no Congresso Nacional, sem
oferecer a mais leve prova. Pediu desculpas? Não. Ao contrário, ao chegar
ao governo, juntou-se a eles, o que,
aliás, é uma das origens de seus problemas atuais.
Presidente da República, mais que
qualquer outro, deve explicações ao
público. Deve, por exemplo, explicar
a estranha associação entre seu filho
e a Telemar, até para que fique claro
que soube dar aos filhos a educação
que diz ter recebido dos pais.
Deve, por exemplo, enfrentar sua
responsabilidade na "tragédia" de
seu partido, o PT ("tragédia" é expressão de José Dirceu, que se considera emblemático do partido).
Lula foi um dos criadores do partido, foi seu presidente ("por apenas
três anos", foge agora), é seu símbolo,
foi seu único candidato presidencial
em todas as quatro eleições havidas
desde a fundação do PT. Não pode,
portanto, se considerar inimputável
pelos "erros" cometidos por seus dirigentes (expressão também dele próprio, de Dirceu e do novo presidente
petista, Tarso Genro).
Não dá para se considerar inimputável quando a quase totalidade dos
envolvidos com a dinheirama de
Marcos Valério é do PT e da base
aliada de seu governo.
Por fim, cabe lembrar que o "vão
ter que me engolir", além de muito
abaixo da dignidade do cargo, é de
mau agouro. Quem o inventou foi o
técnico Zagallo, em 1997. Acabou engolido em 1998 (por Zidane e cia.) e
por Felipão na Copa seguinte.
crossi@uol.com.br
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