São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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SERGIO COSTA

Dança sem par

RIO DE JANEIRO - Para virar circo não precisa cobrir, mas talvez fosse mais prudente botar cerca. O plenário da Câmara foi palco nessa semana de uma cena mais do que lamentável: emblemática da falta de seriedade, de sobriedade e de decência de boa parte dos nossos parlamentares.
A deputada -guardem este nome- Ângela Guadagnin (PT-SP) inventou um novo tipo de dança na madrugada da absolvição do seu colega João Magno. Um passinho nada elegante que prescinde de parceiro e junta em seus movimentos a celebração da corrupção e da impunidade.
Foi uma dança em homenagem a um acusado de levar mais de R$ 400 mil do valerioduto. Foi de madrugada, como se a sombra da noite em Brasília pudesse ocultar dos eleitores passos de seus representantes. Foi por dona Guadagnin sentir-se em casa diante de uma pizza gigante.
Quem viu a imagem -e, hoje, todo mundo já deve ter visto- reparou na felicidade que transbordou da expressão da deputada para seu corpo: sorriso grudado na cara, bracinho para lá, bracinho para cá, pezinho pra frente, pezinho para trás, enquanto boa parte do país dormia e 94 de seus colegas cochilavam. Faltou voto para cassar Magno.
Letárgico, o presidente da Casa sequer esboçou uma censura à falta de compostura da colega. Caberia a ele, naquele momento, zelar pela imagem da Câmara. Sua indiferença à cena tornou-o cúmplice. Nada mais parece chocar ou indignar aquela turma.
Atravessamos uma semana para não esquecer. Começou com um delegado atribuindo ao Brasil, por ser como ele é, a demora na investigação sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo e terminou com dois deputados do PMDB saindo no tapa na mesma noite da sessão de dança.
Tudo natural. Como a explicação de dona Guadagnin: "Foi espontâneo". Foi mesmo, sabemos todos nós. E o pior é isso.


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