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SERGIO COSTA
Dança sem par
RIO DE JANEIRO - Para virar circo
não precisa cobrir, mas talvez fosse
mais prudente botar cerca. O plenário da Câmara foi palco nessa semana de uma cena mais do que lamentável: emblemática da falta de seriedade, de sobriedade e de decência de
boa parte dos nossos parlamentares.
A deputada -guardem este nome- Ângela Guadagnin (PT-SP) inventou um novo tipo de dança na
madrugada da absolvição do seu colega João Magno. Um passinho nada
elegante que prescinde de parceiro e
junta em seus movimentos a celebração da corrupção e da impunidade.
Foi uma dança em homenagem a
um acusado de levar mais de R$ 400
mil do valerioduto. Foi de madrugada, como se a sombra da noite em
Brasília pudesse ocultar dos eleitores
passos de seus representantes. Foi por
dona Guadagnin sentir-se em casa
diante de uma pizza gigante.
Quem viu a imagem -e, hoje, todo
mundo já deve ter visto- reparou
na felicidade que transbordou da expressão da deputada para seu corpo:
sorriso grudado na cara, bracinho
para lá, bracinho para cá, pezinho
pra frente, pezinho para trás, enquanto boa parte do país dormia e 94
de seus colegas cochilavam. Faltou
voto para cassar Magno.
Letárgico, o presidente da Casa sequer esboçou uma censura à falta de
compostura da colega. Caberia a ele,
naquele momento, zelar pela imagem da Câmara. Sua indiferença à
cena tornou-o cúmplice. Nada mais
parece chocar ou indignar aquela
turma.
Atravessamos uma semana para
não esquecer. Começou com um delegado atribuindo ao Brasil, por ser como ele é, a demora na investigação
sobre a quebra do sigilo bancário do
caseiro Francenildo e terminou com
dois deputados do PMDB saindo no
tapa na mesma noite da sessão de
dança.
Tudo natural. Como a explicação
de dona Guadagnin: "Foi espontâneo". Foi mesmo, sabemos todos nós.
E o pior é isso.
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