São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Além de tudo, burrice

BRASÍLIA - O governo investiga:
1 - Se o caseiro Francenildo Costa tem ou não dinheiro na conta corrente, com quem tem conversado ao telefone ultimamente e se é ou não culpado por lavagem de dinheiro;
2 - Se é ou não filho não reconhecido de um empresário do Piauí que morre de medo da mulher;
3 - Se a mãe dele tem 42 ou 43 anos;
4 - Se ele tinha avô e avó. Vai que eles moravam na mesma rua de um ex-vereador que morreu em 1960 e cujo bisneto é do PFL em Teresina. Tudo é possível nessa vida...
Já a sociedade quer saber:
1 - Se o caseiro falou a verdade ou mentiu ao dizer que o ministro da Fazenda era freqüentador assíduo da casa que seus ex-assessores na Prefeitura de Ribeirão Preto alugaram no bairro mais chique de Brasília;
2 - Se Palocci era o "chefe" da "república de Ribeirão" e se a casa alugada por eles era usada para intermediar negócios com o governo em que ele é um dos manda-chuvas;
3 - Se o ministro da Fazenda fala a verdade ou mente, não apenas nessa questão da casa, mas em algumas outras até agora não esclarecidas. Exemplo: a denúncia de seu amigão Rogério Buratti, de que a prefeitura, na época de ambos, recolhia um "mensalão" de R$ 50 mil que não ia para os cofres públicos.
Esse descompasso entre as investigações do governo e as que os cidadãos querem resulta numa inversão de papéis: a testemunha vira réu! E começa o mais deslavado vale-tudo.
A CEF viola o sigilo bancário de um caseiro e recusa-se a entregar o autor e até os computadores. A Polícia Federal determina a quebra de sigilo bancário e telefônico da vítima da violação. E o Coaf decide investigá-la por lavagem de dinheiro.
Além da agressão e da violência, o mais assustador é a burrice. O governo do PT tentou transformar o caseiro em monstro, mas está à beira de transformá-lo em mártir. E Palocci vai cair do mesmo jeito. Mais um prato cheio para a campanha adversária, entre tantos outros criados pelo próprio governo e pelo próprio PT.


@ - elianec@uol.com.br


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