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CLÓVIS ROSSI
Quando calar é pecado
SÃO PAULO- Vou, de saída, dar a cara para bater, ao contrariar a sede de
sangue que pinga dos e-mails que recebo: confesso uma razoável dificuldade em acreditar que o ministro
Antonio Palocci tenha se envolvido
em trambiques na Fazenda.
Não é informação privilegiada. É
um pouco de intuição, misturada a
contatos pessoais em geral muito
francos e, por isso mesmo, tempestuosos por vezes.
Não posso dizer o mesmo sobre sua
gestão em Ribeirão Preto. Ali, parece
ter-se repetido o padrão de outras
prefeituras petistas originalmente denunciado por Paulo de Tarso Venceslau, denúncias a que poucos deram
atenção (e eu, admito, fui um dos
muitos distraídos).
A presunção de inocência do ministro não o exime, no entanto, de prestar contas ao público sobre suas relações com a versão petista da Casa da
Dinda, a mansão de Brasília em que
ex-auxiliares seus se reuniam para o
que desse e viesse.
Palocci tem até alguma razão ao
defender o lado pessoal. Mas, exceto
um ou outro tarado, ninguém está
preocupado em saber se o ministro
teve ou não contato com mulheres na
nova Casa da Dinda.
O que interessa é saber se mentiu ao
dizer que nunca esteve lá ou, pior, se
esteve lá para participar dos negócios
de seus antigos amigos.
Prestação de contas é obrigação
primária, elementar, básica, de qualquer homem público. Perdão pela
tremenda obviedade, mas, no Brasil,
o óbvio às vezes vira revelação.
Mais: homem público realmente
digno desse nome se revolta quando
há o uso da máquina do Estado para
benefício de seus ocupantes, como está acontecendo no caso do caseiro
Francenildo. Mesmo que o benefício
seja para ele próprio ou para seu partido. Silenciar é dar a entender que
acredita que o Estado é sua propriedade particular.
Não adianta, pois, o ministro fugir,
fingindo que tudo não passa de uma
fofoca pessoal. O que está em jogo é a
noção de serviço público que Palocci
tem (ou não tem). Calar permite crer
que não a tem.
@ - crossi@uol.com.br
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