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O FIM DE UM DELÍRIO
O anúncio do grupo terrorista
basco ETA de que vai observar
um cessar-fogo permanente, se efetivado, porá fim a quase quatro décadas de atentados que subtraíram a vida a cerca de 800 pessoas. É uma notícia histórica para os espanhóis.
O ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou
"pátria basca e liberdade") era a última organização terrorista ativa da
Europa ocidental. A deposição das
armas se deve a uma feliz combinação de repressão -importantes lideranças do ETA foram presas nos últimos anos- e abertura para o diálogo político, adotada a partir da eleição do premiê socialista José Luis
Rodríguez Zapatero, dois anos atrás.
Outro fator decisivo foram os ataques de 11 de março de 2004 da rede
Al Qaeda a estações de trem em Madri. O ignominioso saldo de 191 mortos tornou insuportável para os espanhóis a idéia de que pode haver legitimidade em matar inocentes para
tentar atingir desígnios políticos.
Toda ação terrorista, ao transformar civis em instrumento de chantagem, é essencialmente covarde e desumana. No caso do ETA, o caráter
pusilânime do terror atingia o paroxismo, pois os propósitos políticos
do grupo beiram o delírio. Não encontram amparo nem mesmo nos
pretextos normalmente usados por
outros grupos terroristas para justificar suas ações, como pobreza, segregação social, perseguição religiosa
ou luta contra a repressão.
A Espanha é uma democracia plena. E o País Basco que o ETA pretende "libertar" é uma região bastante
rica mesmo para os padrões europeus e que já possui Parlamento e governo autônomos, além de independência fiscal. Mais do que isso, os separatistas não contam nem com a
simpatia da própria população. Só
uma exígua minoria dos bascos defende a secessão.
Como não poderia deixar de ser, a
"causa" do ETA -que nos primórdios ainda se confundia com a resistência armada à ditadura franquista- foi se tornando cada vez mais
impopular. Nos últimos anos, as
ações do grupo já não se diferenciavam do banditismo comum. O ETA
se financiava cobrando de empresários bascos o "imposto revolucionário", isto é, bem ao estilo da Máfia,
vendia-lhes "proteção".
Aparentemente, nem os terroristas
acreditavam muito no propósito político de suas atividades. Avisavam
dos atentados com antecedência, o
que dava à polícia tempo para evacuar as áreas que seriam atingidas
pelas bombas. Desde 2003, ninguém
morreu nesses ataques.
A receita que pode ter acabado com
o terrorismo doméstico na Espanha
não se reproduz com facilidade. É difícil dosar o quanto de repressão e o
quanto de abertura política são necessários. Mas ela não é inédita.
Também já foi usada com sucesso
para pôr fim à violência do IRA
(Exército Republicano Irlandês) na
Irlanda do Norte. Espera-se que outros líderes mundiais aprendam com
essas experiências.
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