|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Em nome da biodiversidade
Porque nossos padrões de desenvolvimento são insustentáveis, o mundo perde sua biodiversidade de forma alarmante
|
STAVROS DIMAS
A conservação e o uso sustentável da diversidade biológica -a
enorme variedade da vida na Terra- é
essencial para o nosso desenvolvimento
econômico e a qualidade de vida de cada um de nós. A maioria das coisas que
usamos no dia-a-dia -o que comemos
e bebemos, o material que usamos para
construir as nossas casas ou os remédios de que precisamos para curar
doenças- depende dela. Mas, hoje, o
mundo está perdendo sua biodiversidade a uma velocidade alarmante porque
os nossos padrões de desenvolvimento
permanecem insustentáveis.
Além disso, a globalização está deixando as nossas economias nacionais e
regionais cada vez mais interligadas. O
que consumimos na Europa tem um
efeito sobre a floresta amazônica, no
Brasil. Precisamos, portanto, entender
melhor essas ligações e garantir que o
nosso desenvolvimento econômico e
social conserve a biodiversidade, em vez
de prejudicá-la.
O Brasil é o anfitrião da Conferência
das Partes da Convenção das Nações
Unidas sobre a Diversidade Biológica
(CDB), que está acontecendo de 20 a 31
de março, em Curitiba (PR). A reunião
internacional visa avançar rumo aos objetivos da convenção, ou seja, a conservação da biodiversidade, o uso sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios decorrentes do uso dos recursos genéticos.
Por isso, a CDB é um evento importante
não apenas para o futuro do meio ambiente da Terra mas também para o
bem-estar futuro da humanidade.
A União Européia (UE), que, ao lado
de 187 países, é parte da CDB, tem um
compromisso forte para trabalhar ao
mesmo tempo dentro das suas próprias
fronteiras e em cooperação com países
parceiros para estancar a perda da biodiversidade no mundo inteiro. Estamos
levando muito a sério o objetivo, definido pelos líderes mundiais em Johanesburgo (África do Sul), em 2002, de reduzir substancialmente a taxa de perda de
biodiversidade no mundo até 2010.
Na verdade, como contribuição a esse
esforço global, a UE colocou a si mesma
um objetivo ainda mais exigente: interromper o declínio da biodiversidade na
União Européia até 2010.
O que é preciso conseguir em Curitiba? Primeiro, devemos avançar na criação de áreas protegidas. Esse é um dos
principais instrumentos que temos para
preservar a biodiversidade. O Brasil tem
muito a mostrar ao mundo a esse respeito. Nós, europeus, tomamos conhecimento, com grande interesse, do tamanho da área da floresta amazônica
recentemente colocada sob proteção
pelo presidente Lula, bem como pela
forma com que fontes alternativas de
renda estão sendo geradas para financiar a conservação. Uma boa ilustração
disso é o uso das taxas turísticas para
manter o parque nacional em Fernando
de Noronha, classificado como patrimônio mundial da humanidade.
A UE também é muito ativa no campo
das áreas protegidas. Nossa rede européia de áreas protegidas terrestres e marinhas, chamada Natura 2000, é a maior
rede desse tipo no mundo. Ela inclui 20
mil unidades e, quando estiver completa, cobrirá 18% do território dos nossos
25 países-membros.
A preocupação pela biodiversidade
foi também incorporada dentro da política agrícola comum (PAC), e medidas
para proteger o meio ambiente se tornaram uma parte integrante da política de
desenvolvimento rural da UE. Hoje em
dia, a PAC reformada é o maior instrumento financeiro para a gestão das
áreas protegidas que pertencem à rede
Natura 2000. E ela apóia também a agricultura orgânica.
Outra questão chave para o nosso encontro em Curitiba é o uso sustentável
das florestas, dos oceanos e das terras
agrícolas. O desmatamento ilegal e a
conversão de terras devem ser combatidos, e o uso dos organismos geneticamente modificados, controlado, de forma a não colocar em perigo a saúde das
pessoas ou o meio ambiente.
O conhecimento tradicional das comunidades locais e indígenas é um fantástico "banco" de conhecimentos sobre como o homem pode viver em harmonia com a natureza e usar seus recursos de forma sustentável, permitindo
que as gerações futuras também se beneficiem deles. Esse conhecimento tradicional precisa ser preservado, e os benefícios induzidos pelo uso dos recursos precisam ser repartidos eqüitativamente com aqueles que o possuem.
Como já mencionei, a CDB é um instrumento essencial para o futuro da humanidade. Sendo assim, a UE tem
apoiado países parceiros para ajudá-los
a alcançar os objetivos da CDB. Por
exemplo, temos financiado vários projetos no Brasil para a proteção da floresta amazônica e o apoio a comunidades
indígenas e tradicionais para manterem
ou melhorarem suas formas de vida.
Tenho a maior esperança de que a
conferência de Curitiba realizará progressos significativos para a preservação da nossa biodiversidade.
Stavros Dimas, 64, formado em direito e economia pela Universidade de Atenas (Grécia) e mestre em direito pela Universidade de Nova York (EUA), é o comissário europeu para o Meio Ambiente. Na Grécia, foi ministro do Comércio (1980-81), da Agricultura (1989-90) e da Indústria, Energia e Tecnologia (1990-91).
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Pierpaolo Bottini: Uma nova Justiça Índice
|