São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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AS VÍTIMAS DE SEMPRE

Em 2001 e 2003 , quando o governo Bush propôs -em nome da necessidade de reanimar a economia, abalada pela queda brusca do mercado de ações- cortes pronunciados e permanentes de impostos, várias vozes críticas se levantaram.
Muitas apontaram o caráter elitista da iniciativa, que beneficiava sobretudo as famílias de renda mais alta, e para o risco de que tivesse baixa eficácia, dado que os ricos têm menor propensão a aumentar seus gastos. Alguns observadores, como o economista Paul Krugman, foram além, ao sugerir que a proposição de reduções permanentes de impostos visava, mais do que reanimar a economia a curto prazo (para o que bastariam diminuições temporárias da tributação), criar condições para que o Congresso viesse, no futuro, a acolher proposições da ala mais conservadora do Partido Republicano.
Essa corrente política defende cortes agressivos em programas sociais, como a assistência à saúde, e nos gastos previdenciários -as vítimas de sempre nos ajustes fiscais. São propostas que, em condições de normalidade, tendem a receber forte oposição na sociedade e no Parlamento. No contexto de uma crise fiscal, no entanto, a resistência a cortes desse tipo tende a ser diluída.
Uma crise fiscal é exatamente o que está em gestação, pela ação combinada dos cortes permanentes de impostos e da perspectiva de aumento dos gastos previdenciários e com assistência médica, devido ao envelhecimento da chamada geração do "baby boom".
Até agora, muitos vinham considerando fantasiosa essa "teoria conspiratória" levantada por Krugman e por outros críticos de Bush. No entanto crescem os elementos a indicar que as suspeitas eram fundadas. A evidência mais recente, e mais eloqüente, surgiu há dias, num depoimento do presidente do Federal Reserve (o banco central dos EUA), o republicano Alan Greenspan, ao Congresso norte-americano.
Falando de sua preocupação com relação ao crescente déficit público, Greenspan afirmou que aumentar impostos seria a última alternativa. Em contrapartida, recomendou explicitamente aos congressistas que cortem os gastos sociais.



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