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CLÓVIS ROSSI
Caiu a ficha?
MADRI - A julgar pelo que o governo argentino vazou para a mídia do
país, o Brasil está na iminência de
mudar a política econômica suicida
adotada desde o início do governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
No encontro entre Lula e seu colega
Néstor Kirchner, anteontem em Caracas, ficou decidido que os dois países adotarão "abordagens comuns
com o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento",
segundo o chanceler argentino Rafael Bielsa, no relato de Atilio Bleta
para o jornal "Clarín".
No dia 10 de março, quando os dois
presidentes se reunirem de novo, desta vez no Brasil, estará pronto "um
programa completo" para apresentar
ao Fundo, sempre de acordo com o
relato de Bielsa.
É importante notar que, para os
jornais brasileiros, o relato do encontro feito pelo chanceler Celso Amorim
foi diferente, quase burocrático.
Impossível dizer, por enquanto, se
vale a versão entusiasmada de Bielsa
(que usou o desgastado qualificativo
de "histórico" para o encontro) ou a
versão rotineira de Amorim.
Vale, de todo modo, registrar o sentimento predominante no governo
argentino a respeito do Brasil. Eis o
relato do "Clarín":
"A satisfação que se viveu ontem
(sexta-feira) na delegação nacional
se deve também à percepção que têm
Kirchner e Bielsa de que o Brasil está
abandonando sua política de extrema cautela com o FMI, sobretudo depois do impacto que produziu a queda do PIB brasileiro no ano passado"
(o 0,2% de retrocesso na economia,
que foi manchete em quase todos os
jornais de sábado).
Continua o "Clarín": "Perto de
Kirchner, supõem que Lula poderia
chegar inclusive a admitir nos próximos meses que seu acerto com o Fundo para pagar a dívida com 4,5% de
superávit do PIB resulta agora muito
oneroso" (na verdade, o superávit
acertado foi de 4,25%).
Pode ser apenas desejo do governo
argentino, mas uma autocrítica desse
tipo faria mais bem ao Brasil que à
Argentina.
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