São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Caiu a ficha?

MADRI - A julgar pelo que o governo argentino vazou para a mídia do país, o Brasil está na iminência de mudar a política econômica suicida adotada desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
No encontro entre Lula e seu colega Néstor Kirchner, anteontem em Caracas, ficou decidido que os dois países adotarão "abordagens comuns com o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento", segundo o chanceler argentino Rafael Bielsa, no relato de Atilio Bleta para o jornal "Clarín".
No dia 10 de março, quando os dois presidentes se reunirem de novo, desta vez no Brasil, estará pronto "um programa completo" para apresentar ao Fundo, sempre de acordo com o relato de Bielsa.
É importante notar que, para os jornais brasileiros, o relato do encontro feito pelo chanceler Celso Amorim foi diferente, quase burocrático.
Impossível dizer, por enquanto, se vale a versão entusiasmada de Bielsa (que usou o desgastado qualificativo de "histórico" para o encontro) ou a versão rotineira de Amorim.
Vale, de todo modo, registrar o sentimento predominante no governo argentino a respeito do Brasil. Eis o relato do "Clarín":
"A satisfação que se viveu ontem (sexta-feira) na delegação nacional se deve também à percepção que têm Kirchner e Bielsa de que o Brasil está abandonando sua política de extrema cautela com o FMI, sobretudo depois do impacto que produziu a queda do PIB brasileiro no ano passado" (o 0,2% de retrocesso na economia, que foi manchete em quase todos os jornais de sábado).
Continua o "Clarín": "Perto de Kirchner, supõem que Lula poderia chegar inclusive a admitir nos próximos meses que seu acerto com o Fundo para pagar a dívida com 4,5% de superávit do PIB resulta agora muito oneroso" (na verdade, o superávit acertado foi de 4,25%).
Pode ser apenas desejo do governo argentino, mas uma autocrítica desse tipo faria mais bem ao Brasil que à Argentina.



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