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Turismo

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História de viagem

'Tem um jogador que faz qualquer coisa com a bola?'

ROBERTO DIAS SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

Corria o ano de 2005, e eu passava férias em Cuba.

Os apuros da população cubana podiam fazer de qualquer caminhada por Havana uma experiência por vezes chata. Rum e charutos, mulheres e passeios --tudo podia ser ofertado aos turistas.

Num fim de manhã, chegando à praça Inglaterra, no coração da velha Havana, um casal se aproximou. "Lá vem mais um vendedor", pensei.

Mas tinha algo diferente no jeito deles. "São brasileiros?", perguntaram. Diante da resposta afirmativa, a garota virou-se para o rapaz, que mantinha a cabeça baixa: "Agora que eles pararam, pergunta!".

Ele levantou os olhos e soltou uma frase da qual nunca me esquecerei: "É verdade que no seu país tem um jogador que faz qualquer coisa com a bola?".Tive a sensação de entendê-lo, mas achei minha intuição tão surreal que devolvi alguma interjeição de surpresa. Ele confirmou a suspeita: "O Ronaldinho".

O gaúcho tinha acabado de ser eleito o melhor do mundo. Era incontestável --no fim daquele ano, repetiria o título. Todo o mundo assistia atônito às suas jogadas, no Barcelona e na seleção, nas ESPNs da vida. Ou melhor, quase o mundo todo.

Depois de confirmar que sim, existia mesmo esse cara na minha terra, perguntei: "Mas você não o vê?".

Quem respondeu foi a garota: "Não, não tem como". Ele emendou: "Aqui, os jogos só passam nos hotéis, para turistas". Ela: "É o sonho dele ver o Ronaldinho jogar".

O rapaz sorriu, eles agradeceram e se foram sem oferecer charutos, rum ou qualquer coisa. Nenhuma imagem daquela viagem foi mais forte do que a daquele garoto mentalmente desenhando as jogadas de Ronaldinho, como se estivéssemos na era do rádio, em pleno século 21.


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