Qual
é a melhor idade para parar de dirigir? Esta é
uma pergunta que a indústria automobilística
está cada vez mais preocupada em responder em razão
do aumento da expectativa de vida da população
mundial. De olho na tendência, fabricantes de autopeças
começam a desenvolver equipamentos e sistemas para
facilitar o uso do automóvel e ajudar o motorista idoso
a enfrentar os preconceitos e aflições que chegam
com a perda do vigor físico, dos reflexos e da visão.
As soluções que vêm sendo analisadas na
indústria automobilística mundial incluem idéias
simples e baratas, que podem ser usadas em qualquer carro,
e também equipamentos mais sofisticados, disponíveis,
por enquanto, somente no Primeiro Mundo.
Entre as sugestões mais modestas para facilitar a
vida da Terceira Idade ao volante, nos Estados Unidos pesquisadores
da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA),
órgão do governo, e da indústria automobilística
propõem que o interior do carro passe a oferecer informações
visuais mais fáceis, como mostradores maiores, equipamentos
com letras maiores e ainda maior contraste entre letras/gráficos
e fundo no painel. Na parte auditiva, sons de freqüências
mais altas podem indicar maior urgência.
Na lista de inovações mais sofisticadas, a
TRW, multinacional americana, já vende nos Estados
Unidos e Europa equipamentos como o radar que detecta objetos
em movimento com alcance ampliado de até 200 metros.
Além disso, o motorista que já não tem
a mesma força nos braços e mãos não
poderia contar com algo mais cômodo do que um freio
de estacionamento elétrico. Basta acionar um botão
e ele nem sente que os anos passaram.
A direção da TRW acredita que os equipamentos
que começou a colocar nos mercados dos Estados Unidos
e Europa trazem segurança para manter a terceira idade
ao volante. Segundo o diretor da TRW no Brasil, Wilson Rocha,
não são peças exclusivamente lançadas
para idosos. "Facilitam o uso do carro por motoristas
de qualquer idade", destaca. "Mas, exatamente por
isso são muito úteis para os mais velhos que,
apesar dos sentidos reduzidos, possuem o direito de ir e vir",
completa o executivo.
Na Europa já existem automóveis que podem ser
equipados com dispositivo que reduz automaticamente a velocidade
se o carro à frente estiver mais lento. O EnTire solution,
equipamento lançado pela TRW, mede constantemente a
pressão e a temperatura dos pneus e dá até
um sinal no painel para avisar que o pneu furou.
A má notícia para os velhinhos brasileiros
é que essas novidades ainda vão levar um bom
tempo para chegar ao país. Rocha calcula 10 anos. Mas,
segundo ele, outras facilidades já começam a
aparecer no mercado brasileiro. A indústria já
trabalha, por exemplo, com direções mais leves.
Uma pesquisa patrocinada pela Toyota, realizada na Universidade
da Virgínia, analisou como garantir mostradores de
painéis mais claros para motoristas idosos com visão
reduzida e reflexos mais lentos. A equipe também começou
a pesquisar a perda auditiva e suas implicações
para o projeto automotivo.
Segundo a NHTSA, nos Estados Unidos motoristas idosos respondem
por 12% das fatalidades no trânsito. O índice
não é alto quando comparado com motoristas de
outras faixas etárias. Mas os estudos mostram que os
condutores mais velhos estão envolvidos em número
mais alto de colisões por distância percorrida
do que jovens ou motoristas de meia idade.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), no Brasil, o número de indivíduos com
mais de 60 anos aumentou 29 vezes desde 1940. Projeções
internacionais indicam que, em 2050, a população
idosa do planeta estará em 1,9 milhão de pessoas,
total equivalente ao habitantes de 0 a 14 anos.
Envelhecer não é fácil. Cercada de preconceitos,
a velhice nos afasta da vida ativa, enfraquece o corpo e nos
privaria de prazeres. Mas não existe idade certa para
parar de dirigir, afirma Rocha, da TRW. Para ele, somente
os exames médicos são capazes de afastar o ser
humano da direção.
Marli Olmos
Valor Econômico.
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