Pela primeira
vez em 30 anos, a Universidade Harvard está revisando
seu currículo de graduação, concluindo
que os estudantes precisam de mais tempo para explorações
amplas, mais familiaridade com o mundo por meio de estudos
no exterior e um conhecimento científico mais profundo.
Depois de 15 meses de estudo, um comitê formado por
administradores, professores e estudantes recomendou à
universidade que dê aos alunos mais tempo para escolher
sua área profissional de estudos e limite os pré-requisitos
para essas áreas, incentive o estudo no exterior e
aumente o número de cursos científicos obrigatórios.
A conclusão de que os estudantes precisam de um alcance
maior de conhecimentos num mundo que muda rapidamente provavelmente
terá um impacto nas universidades de todo o país,
muitas das quais também estão tentando modernizar
seus currículos.
Ao fazer essas recomendações, o comitê
respondia ao que "significa ser uma pessoa educada nos
primeiros 25 anos do século 21".
William Kirby, diretor da faculdade de artes e ciências,
disse ontem, em uma carta aos professores: "como uma
instituição americana de liderança, Harvard
tem a responsabilidade de educar seus alunos -que morarão
e trabalharão em todos os cantos do globo- como cidadãos
não apenas de seu país natal mas também
do mundo, com a capacidade não apenas de compreender
os outros como também de olhar a si mesmos e a este
país como os outros os vêem."
Entre as conclusões do relatório de 67 páginas,
divulgado anteontem, o comitê afirma que, em vez de
estudar a história da China sem deixar a cidade de
Cambridge, os alunos deveriam passar um semestre na Universidade
Qinhua, em Pequim.
"Não é o suficiente presumir que, num mundo
aparentemente cada vez mais anglófono, todas as culturas
estejam se tornando parecidas" disse Kirby, que coordenou
os trabalhos do comitê e ensina história da China.
As recomendações serão discutidas pelos
professores durante o ano que vem -algumas mudanças
exigem uma votação formal. Kirby disse esperar
que as eventuais mudanças sejam implantadas para os
alunos que ingressarem em 2006.
Ciência
Uma das recomendações que mais chamam
a atenção sugere que todos os alunos de Harvard
"sejam educados nas ciências de forma a ser tão
aprofundada como tem sido tradicionalmente no caso das humanidades
e das ciências sociais."
O presidente de Harvard, Lawrence Summers, disse sobre a ênfase
em ciência: "uma cultura da educação
em que é uma vergonha não saber o nome de cinco
peças de Shakespeare, mas é aceitável
não saber a diferença entre um genoma e um cromossomo,
não é uma cultura funcional".
A revisão curricular está entre as principais
iniciativas de Summers e reflete sua ênfase na graduação.
Ele disse que a revisão não significa que o
atual currículo de Harvard seja cheio de defeitos.
""Toda invenção humana deveria ser
revista a cada 25 anos, especialmente à luz das transformações
trazidas pela ciência e pela globalização",
disse, em entrevista concedida por telefone.
Summers disse que, na última vez que o currículo
foi revisto, em meados dos anos 1970, "uma viagem à
Rússia, à China ou à África era
uma experiência exótica e, quando você
estava lá, a única informação
que era possível obter provinha de jornais de dois
ou três dias atrás".
Ele disse que Harvard está fortalecendo o componente
internacional de sua graduação "num momento
em que os Estados Unidos compreendem mal o mundo -e o mundo
compreende mal os Estados Unidos- mais do que em qualquer
época recente".
SARA RIMER
do "New York Times"
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