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da
Redação
A prefeitura de São Paulo integrará os clubes
e escolas municipais. O secretário de esporte Valter
Feldman, que tomará posse amanhã, pretende que
os jovens se apropriem do espaço exercendo atividades
esportivas e, ao mesmo tempo, sendo motivados a gostarem mais
do cotidiano escolar.
Além de melhorar a qualidade do ensino, esse tipo de
medida estimulará o interesse dos alunos pela escola,
levando a diminuição da repetência e desistência
escolar. O Clube Escola é parte do projeto de educação
integral, que através dos alunos atingirá também
os familiares fazendo com que cerca de 3 milhões de
pessoas utilizem as instalações esportivas.
O prefeito Kassab fará proposta
de parceria com o Governo do Estado, oferecendo os clubes
municipais para serem utilizados pela rede pública
de ensino estadual.
Melhor
notícia de educação: Clubes virarão
espaços de extensão escolar
Boêmia
em São Paulo pode virar esporte
Escola
não motiva e perde alunos
40% dos adolescentes que deixaram
de estudar apontaram a falta de vontade para assistir às
aulas
Na faixa de 15 a 17 anos, gestação
também aumenta percentual de abandono do colégio,
diz estudo baseado na Pnad, pesquisa do IBGE
"Deu preguiça de andar até a escola."
Essa é a primeira razão citada por Aline (nome
fictício) para explicar por que parou de estudar aos
15 anos. Aparentemente, a resposta indica que foi a larga
distância ou a falta de transporte público entre
sua casa, no complexo da Maré (zona norte do Rio),
e o antigo colégio que a fez desistir.
Com um pouco mais de conversa, porém, ela explica que
a preguiça não era causada pelos 20 minutos
de caminhada. O problema era outro: "Os professores eram
muito chatos. Não sabiam explicar nada e repetiam todo
mundo. É por isso que só tinha marmanjo na 6ª
série [do ensino fundamental]". Com tanto desestímulo
para aprender, ela parou e, logo depois, engravidou. Hoje,
com 16 anos, é mãe de uma menina de cinco meses.
Esse breve relato da história de Aline ajuda a sintetizar
em um único exemplo as principais razões que
levaram 1,7 milhão de jovens entre 15 e 17 anos (16%
do total) a não estudar em 2005. Para saber quem são
eles, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais)
elaborou um estudo com base na Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios do IBGE em que três conclusões
se sobressaem:
1) três em cada quatro desses jovens (75%) não
completaram o ensino fundamental, mas a maioria (68%) ao menos
chegou até a 5ª série;
2) ter tido filho diminui a probabilidade de a jovem estudar.
Entre as que freqüentam a escola, apenas 1,6% é
mãe, percentual que sobe para 28,8% entre as que estão
fora;
3) mais do que a falta de vagas, de transporte ou mesmo a
necessidade de trabalhar, é a falta de vontade de estudar
que os empurra para fora do sistema de ensino. Essa razão
foi identificada em 40,4% dos casos entre os que não
estão em sala de aula. A necessidade de trabalhar vem
depois (17,1%).
A primeira observação indica que o problema
da evasão está concentrado entre a 5ª e
a 8ª série do ensino fundamental. A segunda mostra
que a fecundidade precoce tem impacto significativo na desistência
de muitas meninas. Já a terceira sugere que, se a escola
não for atraente e fizer algum sentido ao jovem, ele
vai abandoná-la mesmo que suas chances no mercado de
trabalho sejam nulas ou pouco convidativas.
Prova disso é que, desse 1,7 milhão de jovens
fora da escola, 43,4%, ou 740 mil, não trabalham nem
sequer estão procurando emprego. Mesmo quando conseguem
achar um trabalho (caso de 44% dos que não estudam
mais), no entanto, trata-se de emprego precário, já
que apenas 8% do total de jovens fora da escola trabalhando
tem carteira assinada.
O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, aponta a repetência
como fator de desinteresse dos jovens pela escola. Com baixo
desempenho, o aluno deixa de ir à aula, e os pais já
não têm tanta influência para mantê-los
estudando como tinham nas séries iniciais.
Para a professora de pós-graduação em
educação da UnB (Universidade de Brasília)
Benigna Villas Boas, as escolas precisam encontrar uma forma
de avaliar o aprendizado e oferecer mecanismos de recuperação
ao longo do ano.
Já Rubem Alves, educador e colunista da Folha, diz
que o próprio sistema em que as escolas funcionam é
pouco atrativo. Usa como exemplo o fato de as disciplinas
serem ministradas separadamente. "Quem foi que disse
que a cabeça da criança funciona como aparelho
de TV em que você pode tocar uma campainha e mudar de
português para matemática?"
Na avaliação de Eliane Andrade, professora do
departamento de educação da Uerj (Universidade
Estadual do Rio de Janeiro) e da UniRio, não há
motivo único que leve o jovem a abandonar. Para ela,
a necessidade de trabalhar não pode ser desprezada,
mas o problema principal está na escola.
"A escola não está pensando nesse menino
que quer trabalhar. Dar recursos a ele é um passo importante,
mas não é a solução. Não
dá para ficar botando mil penduricalhos sem meter a
mão na escola. Se formos acompanhar esse jovem, veremos
que ele até tenta voltar várias vezes. Ele está
sendo generoso com a escola, mas a escola não está
sendo generosa com ele", diz Andrade.
Esse caminho de ida e volta foi feito três vezes por
Mara Mônica da Silva, 18, aluna do programa ProJovem
no município do Rio. "Eu até era boa aluna,
mas quando chegava outubro desistia de estudar porque precisava
trabalhar", diz.
Seu colega no programa, João Batista Cavalcante, 24,
também está tentando voltar a estudar após
abandonar a escola aos 15 anos, ainda na 6ª série:
"Eu ficava sem ânimo. Acho que era rebeldia. Hoje
me arrependo de ter parado".
Antônio Gois
Luciana Constantino
Folha de S.Paulo.
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