|
Empresa
criou benefício que dá ao funcionário
a opção de incluir, além dos pais, os
sogros no plano de saúde
Uma nova modalidade de benefício trabalhista está
em teste na cidade de São Paulo: a inclusão
no plano de saúde não apenas dos pais do funcionário
mas, ainda por cima, dos seus sogros.
Essa versão inusitada de Bolsa-Família, que
vai do filho à sogra, é apenas um detalhe do
pacote de benefícios que inclui, entre outras coisas,
ajuda para as mães que quiserem contratar uma babá
e bônus atrelado ao desempenho individual e de grupo.
Foi com esse tipo de oferta que a rede de varejo Magazine
Luiza selecionou 2.000 entre 120 mil candidatos para trabalhar
nas lojas que vai abrir em São Paulo. Os selecionadores
optaram por aqueles que demonstraram maior criatividade e
habilidade de comunicação.
A imensa maioria dos contratados tem o diploma de ensino médio.
É pouco. Todos terão direito a bolsa de estudo
para cursar uma faculdade ou para realizar cursos de aperfeiçoamento
profissional.
As exigências daquela empresa ajudam a entender a importância
de duas medidas anunciadas na semana passada para aumentar
o repertório cultural dos brasileiros -afinal, sem
repertório cultural, não se produzem trabalhadores
comunicativos, indispensáveis em economias com foco
nos serviços.
Um acordo entre o Ministério da Educação
e associações empresariais acertou, na terça-feira,
que um terço das verbas destinadas à cultura
pelo Sistema S -Sesc e Sesi- seja drenado para alunos de escolas
públicas. Isso significa que deverão ser doados
ingressos de peças, filmes, exposições
ou concertos. Neste ano, segundo o ministro Fernando Haddad,
gestores da rede pública serão treinados para
aproveitar os recursos disponíveis pelo Sistema S,
que, pelo acordo, também deverá aumentar a oferta
de cursos gratuitos. O treinamento fará parte de um
programa já em andamento, batizado de Mais Educação,
desenvolvido em regiões metropolitanas, cuja meta é
criar as mais diferentes redes (saúde, lazer, geração
de renda, assistência social) em torno das escolas,
como se fossem extensões da sala de aula -e, assim,
aumentar o horário escolar.
Essa é a linha da segunda medida anunciada na semana
passada, desta vez em São Paulo. Escolas estaduais
terão recursos para que se aproximem mais dos museus,
dos teatros, das exposições e dos concertos.
Levar até o museu é fácil, basta um motorista
de ônibus. A questão é saber se o professor
vai conseguir fazer uma experiência que ajude a ensinar.
Derrubar os muros da escola e transformar uma cidade num espaço
de aprendizado é um desafio experimentado, com muita
dificuldade, em várias partes das nações
mais ricas. Mas, quando se ultrapassam essas barreiras, os
resultados são extraordinários. Um bom exemplo
é o Museu da Língua Portuguesa. Já é
difícil fazer as crianças gostarem de museu
e, mais difícil ainda, é fazer com que gostem
do português. Nenhum museu do país recebe em
média, por dia, 1.500 visitantes. "Para muita
gente, especialmente para os jovens, a imagem de um museu
está associada a coisa velha e chata. O que tentamos
fazer é que pareça algo vivo, dinâmico,
interativo", conta Marcelo Dantas, um dos idealizadores
daquele museu. Esse conceito torna-se palpável nas
imensas filas que se formam, agora, para ver a exposição
sobre Machado de Assis -um escritor na maioria das vezes torturado
nas salas de aula. Torturado pelos alunos e pelos professores.
Quero dizer o seguinte: as pessoas estão mais preparadas
para os desafios do mercado de trabalho, como as demandas
da rede Magazine Luiza, quando têm, desde cedo, contato
com a cultura -e, especialmente, se aprendem como se estivessem
num museu como o da Língua Portuguesa. E não
como se fossem personagens do sombrio texto de Machado, intitulado
"Conto de Escola". Na conhecida ironia machadiana,
conto não é apenas um gênero literário.
PS - Bem diferente do espírito do "Conto
de Escola" é uma surpresa da qual Marcelo
Dantas faz parte. Ele integra a equipe da Fundação
Catavento, cuja inauguração está prevista
para outubro em São Paulo. O projeto é usar
as mais diversas tecnologias para encantar com lições
de química, física, matemática, biologia,
história ou geografia. Um dos projetos de Dantas é
uma parede íngreme que simula uma montanha. Depois
da escalada, o "alpinista" entra numa câmara
escura, onde vai conversar com personagens como Albert Einstein,
Winston Churchill ou Santos Dumont -os recursos digitais permitirão
que se pergunte a eles sobre, por exemplo, a invenção
do avião, a briga dos ingleses com os nazistas ou a
inspiração que levou à teoria da relatividade.
Na semana passada, ele pensava se iria incluir na galeria
Machado de Assis, que, assim, poderia, quem sabe, esclarecer
diretamente a todos sobre sua arte das ironias.
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
|