"Quem
conhece de verdade uma favela logo percebe que o discurso
geral da sociedade, que a associa somente ao tráfico
e à violência, é muito pobre. A favela
produz mais do que isso, é muito mais rica do que se
imagina". A opinião é de Diógenes
Pinheiro, professor da Unirio e pesquisador do Observatório
de Favelas do Rio de Janeiro (OF/RJ).
A partir
desta afirmativa, ele traduz um dos principais objetivos do
novo projeto de pesquisa do OF, "O Fenômeno de
Favelização da Cidade do Rio de Janeiro":
romper com o preconceito e a visão estereotipada que
a sociedade tem da favela.
O Observatório de Favelas foi
criado há cerca de dois anos para estudar espaços
populares, formar profissionais capazes de lidar com o fenômeno,
especialmente gente da própria comunidade, e criar
redes de articulação para transformação
social destes espaços. O novo projeto de estudo, por
sua vez, surgiu a partir da constatação de que
o material publicado sobre as favelas a partir dos anos 90
trata de algum aspecto específico, como violência,
ou aborda de forma geral uma única comunidade.
Segundo Jaílson de Souza e
Silva, professor da UFF e coordenador do OF e do projeto,
o que falta é uma análise integrada sobre os
espaços populares.
A pesquisa pretende suprir esta carência
e unir o conhecimento acadêmico à intervenção
social, ao transformar os dados colhidos em ações
sociais concretas. Assim, se o mapeamento mostrar número
reduzido de universitários em uma determinada comunidade,
o grupo que lá atua poderá se empenhar na criação
de um pré-vestibular comunitário. Os dados levantados
na pesquisa também ajudarão na formação
de políticas públicas para as favelas.
Um diferencial marcante no projeto
é o fato de os pesquisadores escolhidos serem universitários
moradores das próprias comunidades pesquisadas. Diógenes
Pinheiro lembra que, de uma maneira geral, pesquisadores não
fazem parte das comunidades que estudam. "Assim não
há reflexão por parte de quem é objeto
de estudo. Queremos que essas pessoas também se transformem
em atores de transformação social e que haja
esta reflexão por parte delas", explica.
As
informações são da Revista do Terceiro
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