Bruno
Andreoni
No segundo semestre de 2005, a Secretaria
Municipal da Educação da cidade de Praia Grande
(SP) desenvolveu o projeto de implementação
do Programa de Educação Comunitária no
município.
Para isto, criou a função de “Pedagoga
Comunitária”: uma profissional da escola, com
formação em pedagogia que assumiria a função
em tempo integral. O principal papel deste educador seria
estabelecer um elo entre escola, família e comunidade.
As 52 pedagogas (uma por escola) foram escolhidas através
de um processo de
eleição nos Conselhos de cada escola.
O projeto iniciou com uma formação de 120 horas
em educação comunitária, com aulas semanais,
elaboração de propostas de projetos para cada
escola e acompanhamento dos resultados.
Hoje, o projeto já está firmado nas escolas
por meio do trabalho de 21 professoras que estão divididas
por bairros de atuação, sendo responsáveis
por duas ou três escolas.
O objetivo do trabalho das pedagogas comunitárias é
utilizar o conceito de Bairro–Escola para aproximar
tanto os pais do processo educativo de seus filhos, quanto
a escola da comunidade local.
Com o foco na participação familiar na escola,
a hipótese que foi lançada no início
de 2007 para melhoria de desempenho escolar e redução
do índice de retenção escolar já
mostra resultado: um aumento de 23% da participação
por parte dos pais e uma redução de 9% na retenção
escolar.
Para as pedagogas comunitárias o que mais importa é
o reconhecimento de seu trabalho durante todo o processo que,
hoje, é uma referência tanto para a família
quanto para a escola. A ação é o elo
entre escola, comunidade e família e dentre suas responsabilidades
residem duas que são de extrema importância:
reconhecimento local, ou seja, análise e levantamento
da realidade local para poder agir e a possibilidade de ouvir
e acolher a comunidade.
As pedagogas realizam atendimento direto com as famílias
para que elas se impliquem no processo escolar dos filhos,
com direito a visitas por parte das pedagogas comunitárias
até as casas das famílias para conversa e orientação
junto aos pais na cobrança da participação
escolar. Este processo de orientação familiar
é realizado também na escola.
O processo não termina somente quando o pedagogo realiza
a visita ou a orientação. São muitos
os casos em que oficinas e projetos de intervenção
cotidiana, sejam de geração de renda ou com
foco cultural, são utilizados como ferramentas para
aproximar cada vez mais pais e comunidade local da escola,
abrindo assim a escola e transformando-a em um pólo
de referencia local. São projetos variados que buscam
parceiras locais e talentos, também locais, como forma
de interação de maneira simples, prática
e lógica.
Imagine um projeto de reciclagem. Qual escola não aborda
esse tema durante o ano através de uma atividade interdisciplinar?
Mas se esse assunto é importante pedagogicamente, ele
é ainda mais importante quando uma família de
catadores de produtos recicláveis deixa de ter o seu
filho na sala de aula para que ele ajude no trabalho. A pedagoga
comunitária montou um projeto de reciclagem na escola
para identificar as famílias que são catadoras
e junto com toda a escola realizar um processo de reciclagem
e acumulo de material reciclado, para que, dessa maneira,
a criança ou jovem que estava na rua trabalhando, possa
ir para a escola sem prejudicar o orçamento no final
do mês.
Tão simples quanto lógico, a professora envolveu
toda a comunidade escolar para arrecadar materiais reciclados
que ela reverte em renda e divide entre as famílias
que foram identificadas, classificadas e cadastradas com essa
ocupação.
Aposto que algumas perguntas ressoem nesse momento: as outras
famílias não querem também o dinheiro?
Não possuem também o direito de ter uma parte
no final do mês? A pedagoga comunitária conta
que desde o começo do projeto é esclarecido
que o importante não é o dinheiro, mas sim os
filhos dessas famílias terem o direito de estudar.
Hoje, o projeto continua e agregou também a comunidade
local. Em relação à conscientização
sobre o lixo, ele é parte integrante do PPP (Projeto,
político pedagógico) da escola, o que possibilita
uma ligação direta entre a prática e
a teoria.
Como forma de continuação do trabalho dos Pedagogos
Comunitários surgem novas demandas e com isso novos
braços de atuação por meio dos projetos
SuperEscola e Acontecendo Leitura na Praça, dois projetos
que visam ainda mais a comunidade local em interação
com as políticas publicas de atendimentos dos diferentes
setores.
O SuperEscola é uma parceria da Secretaria de Educação
e da Secretaria de Cidadania. O projeto utiliza os espaços
esportivos das escolas e os que foram construídos no
ano de 2007 para os jogos regionais com o objetivo de oferecer
a possibilidade, no período oposto ao da escola, atividades
esportivas para os alunos.
Esse projeto visa uma futura geração de atletas
e também uma qualidade de vida melhor para crianças
e familiares.
Acontecendo Leitura na Praça é um projeto de
estimulo a leitura a partir da identificação
da falta desse habito nas crianças e jovens e também
nos pais. Este evento público acontece a cada sábado
em uma praça diferente, o que o torna itinerante, proporcionando
assim a proximidade com livros e leitura. São realizadas
durante as atividades leitura de contos, a utilização
de materiais lúdicos, como fantasia e brinquedos, além
de atividades com teatro e música.
A proposta de 2008 para o projeto é ter um único
foco: Projeto Notas, que propõe a diminuição
da retenção e o aumento do desempenho escolar.
Os pedagogos comunitários utilizarão os potenciais
educativos da comunidade local.
No segundo semestre de 2007, uma portaria reconheceu o Pedagogo
Comunitário como um cargo, com direito a plano de carreira
e que faz parte integrante de cada escola.
Diferente do processo inicial de eleição, para
ser efetivado o Pedagogo deve apresentar um projeto de intervenção
social junto à escola, que passa por uma análise
e reconhecimento de uma banca formada por técnicos
e dirigentes de educação. Além de apresentar
o projeto, o educador deve ser funcionário público
aprovado em concurso, realizar uma entrevista e prova.
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