Imagens
de satélite mostram que ventos levam mancha de monóxido
de carbono da Grande SP para interior e litoral
Em contato com luz e calor, monóxido de carbono
se transforma em ozônio, considerado hoje o poluente
que mais preocupa SP
A imagem de satélite com leitura infravermelho mostra
uma mancha escura de monóxido de carbono, poluente
expelido por motores e caldeiras, que parte de São
Paulo e, dependendo da direção do vento, avança
cerca de 600 km -às vezes, até mais- rumo ao
interior do Estado. Quando o vento muda, a mancha cruza o
litoral paulista e invade o oceano.
É a prova tecnológica de que poluentes da Grande
SP afetam regiões distantes, mesmo áreas rurais,
o que pode explicar parte da nota ruim dada pela Cetesb ao
ar de cidades do interior. Além dos poluentes que produzem,
elas recebem a poluição exportada pela capital.
É um problema semelhante ao que ocorre, por exemplo,
na Europa, onde um país exporta poluição
para o outro.
A imagem de satélite do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) revela que a concentração
de monóxido de carbono alcança até cinco
vezes o limite para o ar ser considerado totalmente puro sobre
cidades como Panorama, município a 687 km de São
Paulo.
As imagens podem ser vistas na página www.inpe.br,
do instituto, que mantém um grupo de estudos sobre
poluição.
Embora a concentração de monóxido esteja
abaixo do limite em que poderia afetar a saúde das
pessoas na maior parte da região geográfica
afetada, esse elemento, em contato com luz e calor, se transforma
em ozônio -hoje considerado o poluente que mais preocupa
São Paulo.
Em razão da presença de ozônio acima dos
limites, a Cetesb já considerou impróprio o
ar de municípios como São José dos Campos
e Jaú -cidade cercada por canaviais.
Como o monitoramente no interior do Estado ainda é
precário e existem evidências de queda na qualidade
do ar, a Cetesb planeja instalar ou aperfeiçoar neste
ano estações fixas em dez cidades: Araçatuba,
Araraquara, Bauru, Jaú, Jundiaí, Marília,
Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto e São
José do Rio Preto.
Em comum, a maior parte dessas cidades tem a presença
de grandes canaviais no entorno, com exceção
de Marília, a cerca de 450 km de SP.
"O mais grave é que se trata de uma poluição
com origem industrial e urbana, mas ainda não sabemos
como ela afeta essas cidades", diz o pesquisador Saulo
Freitas, do Inpe.
Esse monitoramento feito pela Cetesb terá reforço
do Inpe, que pretende começar a coletar até
o final do ano dados sobre a presença de ozônio
no ar de toda a América do Sul. "Temos essa preocupação
porque o ozônio é um dos poluentes mais tóxicos",
diz.
Nem mesmo pequenas comunidades na bucólica serra da
Mantiqueira, que mantém a fama de ter um dos ares mais
puros do mundo, estão livres de poluentes, segundo
trabalho de pesquisadores do Inpe.
Plantas usadas para biomonitoramento de poluição
apresentaram alterações esperadas somente para
centros urbanos em teste realizado em São Francisco
Xavier, povoado turístico na Mantiqueira muito procurado
por paulistanos. A planta, sensível à poluição,
é usada em experimentos semelhantes em todo o mundo.
Uma das possíveis causas para essa alteração,
suspeitam pesquisadores, é o transporte de poluição
produzida pelos dois maiores centros urbanos do país,
as regiões metropolitanas de São Paulo e do
Rio.
"Sabemos que o Vale do Paraíba [que passa ao lado
de São Francisco] é um canal em que circula
o ar entre Rio e São Paulo, é uma conexão",
diz Freitas.
José
Ernesto Credendio
Afra Balanzia
Folha de S.Paulo
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