Poluição atmosférica volta a crescer
na região metropolitana, enquanto o poder público
adia as medidas mais urgentes
Com 6 milhões de veículos rodando na cidade
e 2,4 habitantes por carro, não chega a surpreender
que a poluição do ar tenha aumentado em São
Paulo. Mais preocupante é a reversão da tendência
de queda nos índices, que se observava há cinco
anos: de 167 medições de ar inadequado na cidade
em 2006, registraram-se 257 em 2007. Um acréscimo,
portanto, de 54%.
O controle é feito de modo contínuo pela Cetesb
(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) em 24 estações
da região metropolitana. Vários compostos tóxicos
são monitorados. Ponderados, resultam numa escala de
cinco graus de qualidade do ar (boa, regular, inadequada,
má e péssima).
Quando a qualidade é regular, apenas pessoas de grupos
sensíveis, como idosos e crianças, sofrem problemas
de saúde. Se é inadequada, toda a população
pode apresentar sintomas. Estudo do Laboratório de
Poluição Atmosférica Experimental da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
estima que a poluição do ar na região
metropolitana cause 3.000 mortes prematuras por ano.
A poluição aumenta por vários fatores,
além do simples incremento da frota. Dos cerca de 800
novos veículos emplacados em São Paulo a cada
dia, mais de 200 são motocicletas, que lançam
até seis vezes mais poluentes na atmosfera do que os
automóveis. Há 650 mil motocicletas trafegando
pela cidade. Mais mobilidade para poucos e mais contaminação
para todos.
Outro fator importante são os veículos a diesel,
responsáveis por cerca de metade das emissões
de partículas finas, uma das maiores ameaças
à saúde. A Petrobras distribui no país
um dos piores óleos diesel do mundo, com alto teor
de enxofre. São 500 partes por milhão (ppm)
em 237 cidades grandes e absurdas 2.000 ppm noutras localidades.
Nos EUA, toleram-se 15 ppm.
Resolução de 2002 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) estipulava que, em janeiro de 2009, esse
combustível deveria ter no máximo 50 ppm de
enxofre. A Petrobras diz que não poderá cumpri-la.
Assim se enfrentam, como é comum no Brasil, problemas
de saúde pública tão graves quanto esse,
que afeta a vida de mais de 18 milhões de pessoas.
Outra ferramenta crucial para combater a poluição
do ar em São Paulo é a inspeção
veicular, que inclui verificação da regulagem
dos motores. Deveria ser implantada na cidade neste ano, mas
a prefeitura adiou para 2009 a inspeção de veículos
leves. Em 2008, a medida só vale para motores a diesel,
ou 400 mil veículos. Aplicada a toda a frota, estima-se
que reduziria em 35% a 40% a emissão de poluentes.
De omissão em omissão, de adiamento em adiamento,
a poluição do ar paulistano e as mortes por
ela induzidas vão se acumulando. Como o país
deverá continuar a crescer, e também os congestionamentos,
um dia São Paulo terá de encarar medidas muito
mais drásticas, a exemplo da cobrança de pedágio
urbano, como uma questão, literalmente, de sobrevivência.
Editorial
Folha de S.Paulo
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