Apesar
da maior escolaridade, renda puxa para baixo o IDH feminino
no Brasil
S e formassem uma nação à parte, as mulheres
brasileiras teriam um IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) ligeiramente maior do que o dos homens. Esse "ligeiramente"
só se aplica na frase anterior por causa dos baixos
rendimentos delas no mercado de trabalho. Não fosse
isso, por causa do avanço maior na escolaridade e da
mais elevada expectativa de vida, os homens estariam bem atrás
em termos de desenvolvimento humano.
Esse exercício hipotético foi feito a pedido
da Folha pelo economista Marcelo Paixão, da UFRJ e
do Laboratório de Análises Econômicas,
Sociais e Estatísticas das Relações Raciais.
Calculando o IDH de homens e mulheres no Brasil seguindo os
mesmos critérios utilizados pelo Pnud (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento) no cálculo
do índice das nações, Paixão mostrou
que o IDH das mulheres ficaria em 0,80, enquanto o dos homens
seria de 0,79.
O IDH é um índice criado pelo Pnud para comparar
o desenvolvimento humano dos países. O cálculo
é feito a partir de indicadores de renda, alfabetização,
freqüência escolar e expectativa de vida. Quanto
mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento
humano, sendo zero o nível mais baixo.
"O que coloca as mulheres para cima é a maior
longevidade e o crescimento da escolaridade. O rendimento
delas, no entanto, ainda é muito menor do que o dos
homens. Resumindo, elas vivem mais, estudam mais, mas ganham
menos, o que indica que são mais discriminadas no mercado
de trabalho, principalmente se forem negras", diz Paixão.
Empoderamento
Outra medida que deixa clara a dificuldade das mulheres no
Brasil de diminuírem sua desigualdade em relação
aos homens é o percentual delas em cargos legislativos.
Nesse indicador, o Brasil aparece com uma das menores participações
femininas no legislativo do mundo, com apenas 9,1% dos parlamentares
mulheres. É o pior índice da América
do Sul, fica à frente apenas de Guatemala e Haiti na
América Central e é inferior até a nações
árabes como a Síria, que tem 12% de mulheres
no parlamento.
Numa lista de 172 países, o Brasil é apenas
o 130º.
Para o demógrafo José Eustáquio Diniz
Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas
do IBGE e autor de estudos sobre o tema no Brasil, a baixa
participação das mulheres na política
é resultado da lei muito tímida de cotas femininas
para candidaturas em cada partido.
"A política de cotas para mulheres teve a pior
redação em comparação com as leis
em outros países da América Latina. Do jeito
que está a lei, os partidos são obrigados a
oferecer ao menos 30% de vagas às mulheres, sem comprometimento
se essas vagas serão efetivamente preenchidas",
diz Alves, que avalia que a política de cotas de candidaturas
de mulheres é importante para diminuir a desigualdade
de gênero.
Antônio Gois
Folha de S.Paulo.
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